Édouard Lalo
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.
Édouard Lalo nasceu em Lille, na França setentrional, de uma família de origem espanhola. No conservatório dessa cidade foi aluno de Baumann, violoncelista que tocara sinfonias de Beethoven em orquestra regida pelo compositor. Em Paris, Édouard Lalo iniciou seus estudos de violino com o célebre François Habeneck. Em 1855, fundou o quarteto Armingaud, contribuindo significativamente para a difusão da música de câmara, então pouco valorizada na França. Esses antecedentes e a carreira de instrumentista explicam seu amor e dedicação à música da Espanha e aos instrumentos de corda. Em sua obra mais conhecida, a Sinfonia espanhola (composta em 1875, dois anos antes da Carmem, de Bizet), o violino solista aparece integrado à orquestra e o compositor explora os ritmos ibéricos, o que, na época, representava uma inovação ousada para a música francesa. O estilo de Lalo, elogiado por contemporâneos como Fauré, Chausson, Chabrier e o jovem Debussy, marca-se por características típicas da tradição francesa: a clareza das ideias e das formas, a leveza de expressão e a nitidez do colorido orquestral.
Lalo dedicou-se também à ópera, incentivado pela cantora bretã Julie Besnier de Maligny, cuja voz de contralto adaptava-se bem às suas canções e com quem se casou em 1865. Além de uma sinfonia e de obras concertantes, Lalo compôs três belos trios com piano, um quarteto, um concerto para violino (dedicado a Sarasate) e outro para violoncelo, peças que ocupam lugar permanente no repertório dos instrumentistas de cordas. Nesse conjunto, destaca-se merecidamente o Concerto para violoncelo e orquestra, em ré menor. O violoncelista Adolphe Fischer, que acompanhara a gênese da obra, estreou-o no ano seguinte, em Paris. Magistralmente escrito para o instrumento solista, utilizando com propriedade seus recursos técnicos, o concerto caracteriza-se pela riqueza dos temas melódicos, pelos ritmos vivos de inspiração ibérica e por uma orquestração transparente que nunca ofusca o solista.
Os três movimentos apresentam mudanças internas de andamentos. Com um Prelúdio, Lento, cuja rítmica terá papel fundamental em todo o concerto, a orquestra prepara a entrada do solista. O Allegro maestoso seguinte apresenta dois temas: o primeiro lembra a introdução e o segundo tem caráter mais melódico. A conclusão repete o tema inicial transfigurado.
No Intermezzo – Andantino con moto, após breve introdução orquestral, o violoncelo cria uma ambientação onírica, depois interrompida por um luminoso Allegro presto. A música volta ao tempo andantino, mas o Allegro presto retorna para conduzi-la a um final de acordes em pizzicato.
O violoncelo inicia o último movimento, Andante, com um solo amplo, expressivo, contrastante com o rápido diálogo que, a seguir, em uma espécie de rondó Allegro vivace, estabelecerá com a orquestra. Ao final, solista e orquestra se unem para concluir o concerto.
Em 1899, para seu histórico début em Paris, com a Orchestre Lamoureux, o célebre Pablo Casals escolheu o Concerto de Lalo, confirmando-o como um dos concertos favoritos do repertório romântico para seu instrumento.
Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.