Franz Joseph HAYDN
Instrumentação: 2 oboés, 2 trompas, cordas.
Os Esterházy foram a mais influente e opulenta dentre todas as famílias nobres húngaras do império Habsburgo e, posteriormente, império Austro-Húngaro. Tamanha riqueza permitiu-lhes erguer ao sul do lago de Neusiedl um dos mais suntuosos palácios da época, Eszterháza, inspirado nos palácios de Versalhes e Schönbrunn. Ali a família passava o verão e organizava festivais de ópera e teatro, pelos quais Haydn era o responsável. Entre 1761 e 1790, Haydn viveria em isolamento nesse universo palaciano, estabelecendo-se ora em Eisenstadt, sede da família, ora em Eszterháza. Inicialmente, serviu como vice-mestre de capela, tendo sido promovido a mestre de capela no ano de 1766. Cabia-lhe compor música para as refeições e eventos sociais e religiosos segundo os caprichos do príncipe, prezar pela preservação dos instrumentos musicais, organizar os arquivos de partituras e manuscritos e dirigir a orquestra e os cantores residentes no palácio. Não lhe cabia, no entanto, direito sobre suas obras musicais, que, segundo seu contrato, eram de propriedade exclusiva do príncipe. Assim, sua música não poderia ser divulgada, publicada ou executada sem prévio consentimento. Contudo, sabe-se hoje que, desde o ano de 1764, manuscritos seus teriam sido ilegalmente divulgados e comercializados em Londres, Paris e demais centros europeus, o que lhe garantiu certa fama já em meados da década de 1760.
Em 1778, Artaria & Co., editora vienense dedicada à publicação de mapas, decide enveredar pelo mercado de partituras. No ano seguinte, os editores chegam a um acordo de publicação com Haydn, o qual havia recentemente renovado seu contrato com os Esterházy, em novos termos, a fim de readquirir o direito sobre suas obras. O sucesso de sua parceria com a casa Artaria o estimula a expandir seu mercado. Desse modo, em 1781, Haydn passa a fornecer obras para as casas Forsters, em Londres, e Boyer e Naderman, em Paris, tornando-se em pouco tempo o compositor mais requisitado de sua época.
A intensa demanda por novas obras exigiu uma radical mudança de foco em sua produção. A fim de cumprir com os prazos e expandir seu público, Haydn volta-se para a composição de canções e árias e de obras instrumentais que sirvam tanto ao público amador quanto a profissionais. Segundo essas diretrizes, Artaria publica em 1784 o Concerto para Cravo ou Pianoforte em Ré maior. Último dos concertos para teclado de Haydn, acredita-se que tenha sido composto em torno de 1780. Durante sua vida, o Concerto em Ré foi publicado por oito editoras em cinco países, tornando-se o mais popular dentre os seus concertos. Acabou, porém, caindo no esquecimento, vindo a ser reestabelecido apenas na década de 1920, pela cravista e pianista franco-polonesa Wanda Landowska e pelo crítico francês Robert Brussel. Simples, enérgica e aos moldes tradicionais, a obra apresenta três movimentos: um vivace sem um tema realmente contrastante; un poco adagio sentimental e sugestivamente rococó; e um rondo all’ungherese – allegro assai, que tem como tema uma melodia da dança croata Siri Kolo.
Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.