Peter Grimes: Passacaglia, op. 33b

Benjamin BRITTEN

(1945)

 

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, celesta, cordas.

 

Sobre a estreia da primeira grande ópera de Benjamin Britten em junho de 1945, no Sadler’s Wells Theatre, em Londres, um correspondente do The New York Times escreve: “Um marco tanto na história da música britânica quanto na do famoso teatro, cujas portas foram reabertas após quase cinco anos para a apresentação do Peter Grimes do senhor Britten”. De fato, os amantes do gênero esperavam, desde a estreia de Dido and Aeneas de Henry Purcell em 1689, por uma ópera inglesa capaz de assegurar lugar cativo no repertório. Com Peter Grimes, Britten reinseriu a produção operística de seu país na história do gênero e projetou-se como a mais representativa figura do meio musical britânico do século XX.

 

Antes de lançar-se à composição de óperas, Britten percorreu um tortuoso caminho em busca de sua identidade musical e pessoal. Em 1935, é contratado pelo cineasta brasileiro Alberto Cavalcanti como o compositor de trilha sonora do GPO Film Unit. Nos estúdios do GPO Britten viveu um momento de liberação artística, sexual e política. Conheceu o poeta W. H. Auden e o novelista Christopher Isherwood, duas de suas maiores influências, além de Montagu Slater, o futuro libretista de Peter Grimes. Foi ali que se assumiu homossexual – para amigos apenas – e posicionou-se publicamente como pacifista.

O acirramento das tensões políticas na Europa e o anseio por novas experiências musicais levaram-no em 1939 a mudar-se para os Estados Unidos. Em 1941 seu companheiro, o tenor Peter Pears, mostra-lhe um artigo assinado por E. M. Forster sobre o poeta George Crabbe, publicado no semanário The Listener. A descoberta da obra de Crabbe, aliada à frustração com a crítica musical norte-americana, insufla-lhe profunda nostalgia em relação à terra natal. Assim, em 1942, decide retornar à Inglaterra e traz consigo um projeto (encomendado pelo regente Serge Koussevitzky) de composição de uma ópera a partir do poema The Borough, de Crabbe. Em abril do mesmo ano, Britten convida Slater a escrever o libreto. Nos dezoito meses que se seguem, os dois discutem, corrigem e revisam o texto. Em janeiro de 1944, Britten dá início à composição da música.

 

“Com Peter Grimes quis expressar minha consciência da perpétua luta de homens e mulheres cujas vidas dependem do mar”, declara Britten. O enredo conta a história de Peter Grimes, “um pescador – visionário, ambicioso, impetuoso e frustrado” que vive de modo irresponsável e isolado da comunidade local. Malvisto em seu isolamento, Grimes é perseguido pela comunidade da vila quando seus aprendizes morrem de modo suspeito em alto mar. Mesmo inocente – ao menos o Grimes de Slater –, o pescador internaliza culpa e rejeição, vindo a cometer suicídio. A ópera conta com um prólogo e três atos. Cada ato divide-se em duas cenas, cada uma delas introduzida por um interlúdio orquestral. Os quatro interlúdios que retratam o mar foram reunidos por Britten na suíte Four Sea Interludes, op. 33a. Já a Passacaglia, que separa as duas cenas do segundo ato, foi convertida numa peça isolada que expressa a ansiedade e a melancolia daquele que foge à normalidade.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

anterior próximo