Max BRUCH
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
Nascido apenas dez anos depois da morte de Schubert, Max Bruch foi contemporâneo das diferentes correntes musicais que dominaram o romantismo musical europeu na segunda metade do século XIX. Entretanto, manteve-se apegado a um conservadorismo radical – não apenas na música como em suas convicções político-sociais. Grande admirador de Mendelssohn, Bruch atacou duramente Liszt, Wagner e seus seguidores. Morreu dois anos após a morte de Debussy, ignorando as inovações revolucionárias dos grandes compositores do começo do século XX.
Ao longo de sua carreira, Max Bruch ocupou postos de regente de orquestra e de coro em importantes centros musicais como Mannheim, Liverpool e Breslau. Foi professor de composição na Escola Superior de Música de Berlim até 1910. Obteve notoriedade, nas últimas décadas do século XIX, com uma obra extensa, abrangendo vários gêneros: concertos, óperas, sinfonias, corais e peças concertantes de inspiração folclórica. Entretanto, hoje em dia, seu nome permanece unicamente associado ao Concerto para Violino op. 26, cujo sucesso contrasta com a negação quase total de suas outras criações.
O primeiro dos três concertos para violino de Max Bruch mantém inabalável prestígio entre os solistas e o público, atraídos pelo virtuosismo de sua escrita violinística e pela grande riqueza melódica. Foi dedicado a Joseph Joachim, amigo de Brahms e célebre concertista, cujos conselhos foram devidamente aproveitados, sobretudo na parte solo do concerto.
No Allegro moderato inicial, Max Bruch evita a habitual forma do allegro de sonata – apesar de apresentar dois temas principais, o trecho é desprovido das seções de desenvolvimento e reexposição. Trata-se de um diálogo rapsódico entre solista e orquestra que cumpre o papel de introdução aos dois movimentos seguintes. (Por essa razão o compositor hesitou em dar à obra o título de concerto). Os dois temas são contrastantes. O primeiro, dramático, aparece nas madeiras que logo o entregam ao violino. O segundo tema, muito lírico, levará o solista ao registro mais agudo, num percurso fascinante. Dispensando um possível desenvolvimento, a orquestra retoma o diálogo inicial e conduz, sem interrupção, ao andamento seguinte.
O Adagio, introduzido pelo solista, constrói-se essencialmente sobre um só tema em Mi bemol maior. A amplitude do movimento deve-se aos processos de ornamentação, variação e retomada desse tema, até atingir um clímax de grande efeito. Quando o silêncio parece inevitável, a flauta e a trompa preparam o solista para uma última exposição da melodia principal.
O brilhante finale, de andamento fogoso, revela a admiração de Bruch por Brahms, com a evocação dos ritmos ciganos consagrados pelo ilustre modelo. O Allegro energico apresenta seu tema principal em Sol maior, primeiro na orquestra, depois completamente dominado pelo solista. O segundo tema tem maior envergadura. O jogo violinístico se desenvolve por todo o movimento em exuberante virtuosismo, embora sempre controlado pela naturalidade de sua escrita.
Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.