Sergei PROKOFIEV
Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.
Filho de família abastada e influente, Prokofiev recebeu ainda cedo uma educação sólida. Estudou ciências naturais com o pai e artes com a mãe, além de alemão e francês com suas três governantas. Aos quatro anos iniciou as aulas de piano e esboçou suas primeiras composições. Entre 1904 e 1909 estudou composição no Conservatório de São Petersburgo e em 1914 concluiu os estudos de regência e piano na mesma instituição. Em seu recital de formatura executou seu Concerto para piano nº 1 e pela obra recebeu o primeiro prêmio do Conservatório. No início de 1915, Prokofiev passou a trabalhar na composição de um concertino para violino e orquestra. No outono do mesmo ano, abandonou o concertino para concentrar-se na composição de O Jogador, ópera inspirada no romance de Dostoievski. Apenas no verão de 1917 Prokofiev retomaria o antigo projeto tendo em vista não mais a composição de um concertino, mas a de um concerto para violino e orquestra.
A Rússia de 1917 se faz lembrar devido a mudanças estruturais e instabilidade política. A Revolução de Fevereiro depôs o czar Nicolau II em março daquele ano (segundo o calendário ocidental) e, em novembro, a Revolução de Outubro instaurou o governo socialista soviético. Prokofiev, no entanto, manteve-se distante dos movimentos revolucionários, seja isolando-se na cidade termal de Kislovodsk, no Cáucaso, ou refugiando-se durante o verão numa casa de campo próximo a São Petersburgo. Foi ali que finalizou a composição de sua Sinfonia Clássica, inspirada no estilo de Haydn, e do seu Concerto para violino nº 1, obras que, juntamente com seu Concerto para piano nº 1, configuram, na opinião do musicólogo Richard Taruskin, “um trio de precoces e virtualmente perfeitas obras-primas”.
Devido às turbulências políticas, o Concerto para violino nº 1 veio a ser estreado apenas em 18 de outubro de 1923, nos Concertos Koussevitzky da Ópera de Paris, tendo como solista Marcel Darrieux. Em razão de seu lirismo ou mendelssonismo, como colocado pela crítica, a obra foi recebida com desinteresse por uma audiência acostumada a uma linguagem musical ousada e provocadora. A peça, porém, entrou para o repertório de concerto graças aos esforços do importante violinista húngaro Joseph Szigeti, que a incluíra numa bem-sucedida turnê pelas principais cidades europeias, em 1924. O Concerto conta com três movimentos: Andantino, Scherzo: Vivacissimo e Moderato. Embora, em termos de grande forma, a obra seja um tanto convencional, com o primeiro e o terceiro movimentos fazendo alusão à forma sonata, o segundo movimento surpreende ao apresentar um scherzo volátil em substituição ao tradicional movimento lento de concerto. Seu tema de abertura é o motivo meditativo concebido para o concertino e ilustra, na opinião do próprio compositor, a natureza lírica de sua música. O Concerto para violino nº 1 mescla traços da escola nacionalista russa, principalmente de Rimsky-Korsakov e Glazunov, com alusões à peça Mitos, do polonês Karol Szymanowski, e apresenta, nas palavras do violinista Szigeti, uma “mistura de ingenuidade dos contos de fadas com uma selvageria ousada”.
Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.