|    2 jul 2020

Maestro indica: “Concerto para piano nº 2” de Liszt

O virtuosismo de Liszt, Nelson Freire e Eleazar de Carvalho

Franz LISZT | Concerto para piano e orquestra nº 2 em Lá maior

O virtuosismo de Liszt, Nelson Freire e Eleazar de Carvalho

por Fabio Mechetti

Com seu virtuosismo lendário, vida escandalosa comparada aos padrões morais vigentes, influência relevante na cultura europeia da época, fama e fortuna, Liszt foi, talvez, na história da música clássica, aquele que mais poderia ser considerado como uma “estrela do rock” contemporânea. Celebrado como pianista de técnica incomparável até então, o compositor húngaro ampliou de forma marcante a capacidade de expressão do piano, transformando-o no instrumento de escolha na sociedade e contribuindo, assim, para a expansão significativa do repertório dedicado a esse instrumento a partir de meados do século XIX.

Além dessa nova linguagem desenvolvida para o piano em si, Liszt também foi extremamente importante na afirmação da música programática, estética esta que se estabelecia desde o início do século e que viu na figura de Liszt seu mais influente mensageiro.

Aventureiro harmonicamente, fantasioso estruturalmente, ambicioso profissionalmente, sua música oferece muito mais do que a aparente exploração superficial de virtuosidade mirabolante. Ela abre novos caminhos de liberdade composicional que seriam explorados por vários compositores que viriam.

Interessante é que, apesar de ter sido um dos maiores pianistas da história e de ter contribuído sobremaneira para o avanço da técnica pianística, Liszt não escreveu tanto assim para o piano com orquestra; apenas dois concertos e algumas peças de caráter mais descritivo, como a Totentanz (Dança dos mortos) ou o Concerto pathétique. São concertos relativamente curtos em duração e compactos em sua essência expressiva. Dentre os dois, o segundo me parece ser aquele que melhor expressa essa combinação de virtuosismo com a ousadia formal e harmônica que tanto caracterizava Liszt. Ele pede, de seu intérprete, domínio técnico absoluto e, ao mesmo tempo, a habilidade de fazer “cantar” o instrumento em suas linhas mais melódicas e contemplativas.

Existem inúmeras versões deste concerto disponíveis no YouTube, mas confesso que nenhuma delas me convencem tanto quanto o áudio de um concerto ao vivo realizado em 1979 com o nosso Nelson Freire ao piano, acompanhado pela Orquestra da Bavária regida pelo também nosso grande Eleazar de Carvalho. Além da curiosidade que esse exemplo desperta, pelo fato de termos dois dos maiores músicos brasileiros interagindo com uma das grandes orquestras alemãs, a qualidade da interpretação encontra nesses intérpretes aquilo que é exatamente necessário para uma execução inspirada e enérgica desta peça.

A imagem que ilustra este post é uma pintura de Henri Lehmann Carnavalet, 1840.

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