Abertura, Scherzo e Final, op. 52

Robert SCHUMANN

(1841 | Revisada em 1845)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinete, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.

 

Robert Schumann destaca-se entre as principais figuras do Romantismo alemão, não apenas por suas episódicas miniaturas para piano ou ciclos de canções, que sintetizam o ideal romântico, mas também por sua idiossincrática biografia. Os ataques de loucura, a tentativa de suicídio, a tumultuada relação amorosa com Clara, a frustração como pianista e os heterônimos Eusebius e Florestan inspiram relatos curiosos a respeito do compositor. Mas é de fato a versatilidade de sua produção o que lhe assegura um lugar de destaque na história da música.

 

Schumann explorou os mais diversos gêneros musicais e as mais variadas formações ao longo de sua carreira, pois acreditava que “um mestre da Escola Alemã deve saber circular através de todas as formas e gêneros”. Chama a atenção seu “sistema de gêneros”, tal qual definido por John Daverio e Eric Sams – ou seja, o privilégio de gêneros musicais em momentos específicos de sua vida. Assim, nota-se a predominância de composições para piano entre 1833 e 1839, de canções em 1840, de obras sinfônicas em 1841, de música de câmara em 1842, de oratórios em 1843, de formas contrapontísticas em 1845, de música dramática em 1847 e 1848, e de música sacra em 1852.

 

O ano de 1841 é marcado por sua adesão à composição sinfônica e por uma radical mudança de posição em relação à opinião pública. Até 1840, Schumann respondia com descaso ao pouco caso do público em relação à sua obra. Por considerar o público de Leipzig, onde vivia, extremamente conservador e despreparado, demonstrava exclusivo interesse pela opinião de críticos e artistas. Porém, a bem-sucedida estreia de sua primeira sinfonia, em 31 de março de 1841, rendeu-lhe fama e a assinatura de um contrato com a Breitkopf. A partir daquele momento, a opinião pública passaria a interferir em suas opções estéticas. A obra de Schumann que melhor ilustra a interação entre recepção do público, crítica e seu processo composicional é a Abertura, Scherzo e Finale, op. 52.

 

Concebendo-a inicialmente como uma abertura de concerto (aquela que não está vinculada a uma ópera), Schumann começou a trabalhar na obra no dia 12 de abril de 1841, concluindo o esboço no dia seguinte. Entre 19 e 21 de abril esboçou ainda um Scherzo e um Finale como sequência. Em maio, os três movimentos foram reunidos em uma só obra, a meio caminho de uma sinfonia e de uma suíte. Embora funcionasse como sinfonieta, cada movimento poderia, segundo o autor, ser executado independentemente. Revisada em 23 e 24 de agosto, a obra foi estreada a 6 de dezembro. Com exceção da Abertura, ela não agradou ao público, que considerou o Finale formalmente obscuro e desprovido de colorido. Em outubro de 1845 a composição foi retrabalhada a fim de acomodar sugestões de amigos, críticos, editores e mesmo comentários do público. É estreada em Dresden na nova forma, em caráter experimental, em dezembro de 1845; e, oficialmente, em Leipzig, a 1º de janeiro de 1846. Com uma Abertura de tema vibrante, um Scherzo de ritmo gracioso intercalado por dois trios líricos, e um Final em fuga, o op. 52 de Schumann traz a grandeza da sinfonia romântica combinada à leveza da suíte orquestral.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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