Adágio com variações para violoncelo e orquestra

Ottorino RESPIGHI

(1921)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, harpa, cordas.

 

Embora considerado um dos compositores da vanguarda italiana do início do século XX, Ottorino Respighi nunca se filiou rigidamente a nenhuma corrente musical. Teve, no entanto, um papel fundamental na renovação da música de concerto italiana do começo do século, até então fortemente dominada pela ópera. Puccini, um dos últimos representantes da velha guarda, o considerava como o mais talentoso dos jovens compositores italianos. Durante sua carreira de instrumentista, musicólogo, pedagogo e compositor, Respighi soube manter uma rica curiosidade cultural, incomum em qualquer época, percorrendo uma estrada nem sempre fácil, com seus intensos estudos da música italiana dos séculos XVI, XVII e XVIII, e sua predileção por culturas “exóticas”, tais como a brasileira, russa, escocesa e norueguesa. A incrível maestria no tratamento orquestral, a inusitada paleta de timbres, o refinamento melódico e o admirável senso formal são algumas das características que garantiram a Respighi um lugar permanente nas salas de concerto.

 

O Adagio com variações para violoncelo e orquestra originou-se do movimento lento de um Concerto para violoncelo composto em 1902 e nunca publicado. Respighi modificou a obra e a orquestrou por volta de 1920/1921, quando a obra foi estreada em Roma. Embora a data e o local sejam incertos, algumas testemunhas afirmam que o violoncelista da estreia foi Antonio Certani, velho amigo do compositor, a quem a obra foi dedicada.

 

A curta obra possui uma orquestração extremamente delicada. Inicia-se com o tema no violoncelo solista (Adagio), um tema leve acompanhado pelos violoncelos e contrabaixos em pizzicato e pelos clarinetes, fagotes e primeira trompa. Trata-se de um tema lírico, cantabile, de características populares, como as melodias de sabor antigo tão caras a Respighi. Na primeira variação (Poco meno adagio) ouvimos o tema nas violas, violoncelos e contrabaixos, enquanto o longo floreio do solista é ouvido como contracanto ao tema principal. Na segunda variação (Tempo primo) o tema é, novamente, trabalhado no texto do solista, com o vigor dos ataques em cordas duplas, triplas e quádruplas. Na terceira variação (Più mosso), flauta e oboé cuidam do tema, enquanto o solista o embeleza com arpejos extremamente rápidos. Na quarta (Lentamente) ouvimos um belíssimo diálogo, em quasi recitativo, entre o corne inglês e o violoncelo solista. Na quinta (Lento a fantasia) o solista retoma os floreios à moda da primeira variação, porém um pouco mais delirante. Um pequeno interlúdio (Calmo), onde o fragmento inicial do tema, acompanhado pelos floreios do solista, é ouvido em imitação na orquestra, nos conduz à próxima variação. Na sexta variação (Tempo primo) o solista deixa de tocar, enquanto o tema é ouvido em toda a orquestra. O solista volta a executar o tema na sétima variação, entre notas longas da orquestra e uma brilhante movimentação da harpa. Uma breve e bela coda fecha a obra.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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