Frédéric CHOPIN
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, trombone, tímpanos, cordas.
“É hora de começar a polonaise! – Chamberlain exibe orgulhosamente o bigode, gira-lhe as pontas e, numa mesura, convida a jovem Sofia para a dança. Os outros pares se alinham por detrás e só avançam após o seu sinal. Botas carmesins brilhantes, sabres na cintura cuidadosamente lustrados, cintos de ricos brocados desfilam refletindo a luz do sol.” Da dança galante e apavonada da alta sociedade polonesa, assim retratada pelo escritor Adam Mickiewicz em Pan Tadeusz, Chopin soube destilar a mais pura arte, ora em brados de revolta e heroísmo, ora em poemas meditativos.
Provinda da chodzony, uma antiga dança camponesa da Polônia, a polonaise só adquiriu esse nome após ser introduzida na corte francesa pelo séquito de Henrique de Valois, que fora rei da Polônia e, em seguida, herdara o trono da França. Mais tarde, a dança foi adotada em seu país de origem como abertura oficial dos bailes da aristocracia polonesa.
A primeira composição de Chopin foi uma polonaise, em sol menor, escrita aos sete anos e publicada por seu pai. Nessa pequena peça, assim como em toda sua produção até o seu autoexílio, aos 21 anos, permanece a atmosfera da música de salão. O conteúdo emocional das polonaises chopinianas se transformará notadamente após o fracasso da insurreição polonesa de 1831 contra a dominação russa. A Grande Polonaise Brillante em mi bemol foi iniciada em Varsóvia, no ano de 1830 e, portanto, não compartilha da reflexão lírica sobre a violência sofrida pelos camponeses poloneses que inspirará futuras criações chopinianas do gênero. A versão para piano e orquestra da Polonaise Brillante foi concluída em 1831, em Viena, durante a proveitosa estada de Chopin na capital austríaca, a caminho de Paris.
Em 1834, já na capital francesa, Chopin compôs o plácido e noturnal Andante spianato em sol maior para piano solo, o qual preferia executar isoladamente ou preludiando outras de suas composições. Somente em 1836 optou por publicar as duas obras agrupadas sob o título de Grande Polonaise Brillante précédée d’un Andante spianato, em versão para piano e orquestra. Em 1838, adaptou a obra para piano solo e publicou a nova versão.
O termo italiano spianato, originário do verbo spianare – aplanar ou acalmar –, deriva da palavra piano, que em italiano significa suave. Ao encerrar o Andante spianato, uma fanfarra orquestral surge para modular as tonalidades e unir as duas partes distintas, porém, irmãs. Fantasia e garbo, andante e polonaise, cada qual a sua maneira, dão leveza e transmitem joie de vivre ao magnífico conjunto. Estreada no Conservatório de Paris, em 1835, a obra foi um dos cartões de visita para o jovem compositor ingressar no cenário musical e aristocrático da capital francesa. Foi também uma despedida às criações meramente virtuosísticas: Chopin ingressara cedo na maturidade de seu estilo composicional. A partir daí, o virtuosismo seria apenas um caminho para a expressão artística do pianista.
Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.