Frédéric CHOPIN
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, trombone, tímpanos, cordas.
Os dois concertos para piano e orquestra de Frederic François Chopin são obras de juventude. Constituíam, também, uma bagagem necessária para o jovem compositor de dezenove anos, decidido a deixar a Polônia para se apresentar em Viena e Paris. A ordem de publicação inverteu a ordem de composição dos concertos. De fato, o Concerto em mi menor, o primeiro a ser publicado, é ligeiramente posterior ao Concerto em fá menor e foi executado, pela primeira vez, no último dos recitais dados por Chopin no Teatro Nacional de Varsóvia, em outubro de 1830. Com ele o compositor despediu-se de sua terra, pois Chopin jamais voltou à Polônia. Sepultado em Paris, só o coração do artista foi transportado para a catedral de Varsóvia.
Os concertos de Chopin ocupam um lugar de exceção na história desse gênero musical, enquanto afastam-se do modelo ideal criado e consagrado por Mozart. Nos concertos mozartianos a orquestra e o instrumento solista estabelecem um engenhoso diálogo. Chopin limita consideravelmente o papel da orquestra que, praticamente, apenas introduz os temas e interliga os episódios, os quais serão desenvolvidos pelo piano. A forte personalidade artística de Chopin manifesta-se já nessas primeiras obras, pelo encanto de suas melodias, pelo atraente caráter eslavo, pelo brilhantismo de uma escrita pianística que transforma os arabescos virtuosísticos em pura poesia. Raramente obras de juventude têm lugar permanente no repertório, como acontece com os concertos poloneses de Chopin.
Os dois concertos incluem-se entre as poucas obras de Chopin não dedicadas ao piano solo. Nesse contexto, eles demonstram, com sua inexperiente genialidade, o fim de uma tentação: os conterrâneos do compositor esperavam que ele se dedicasse à ópera e à música sinfônica. Chopin concentrou-se no que queria e acreditava poder fazer. E, de fato, poucos artistas souberam, como o grande compositor polonês, limitar-se tanto para chegar tão alto.
O Allegro maestoso inicia uma longa exposição orquestral, em que são apresentados os dois temas principais: o primeiro em mi menor e o segundo em mi maior. O solista faz, em seguida, a sua entrada, com o mesmo motivo inicial da exposição. Uma vez afirmada a sua autoridade, o piano canta uma melodia lírica e expressiva, dominada pelo primeiro tema. Após nova intervenção orquestral, o solista repete todo o material inicial de maneira ainda mais virtuosística.
O Romanze: Larghetto, em mi maior, tem o clima de um noturno. Sobre um delicado acompanhamento das cordas, com algumas intervenções suaves dos sopros, o piano canta uma melodia eminentemente lírica. A ornamentação caprichosa, tipicamente chopiniana, conforma o virtuosismo à expressão poética.
O Rondo: Vivace inicia-se com uma breve introdução orquestral. O piano então expõe uma primeira ideia que se desenvolve sobre um tranquilo acompanhamento das cordas. A orquestra apresenta, em seguida, o segundo tema, mais rítmico e vigoroso.
Todo esse material temático presta-se a variações, com o piano brilhando em escalas e arpejos, em clima de alegria e vivacidade típicas da música popular eslava.
Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.