Concerto para piano nº 2 em Si bemol maior, op. 19

Ludwig van BEETHOVEN

(1790/1795 | Versão final, 1801)

Instrumentação: flauta, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.

 

O período dedicado por Beethoven à composição de concertos para piano e orquestra se estende de 1784 a 1811 e corresponde à primeira parte dos cinquenta anos que dedicaria à música. Ele considerava seus concertos para piano como os “cavalos de batalha” que estabeleceriam a sua reputação como pianista virtuose e compositor. Uma vez seu objetivo alcançado – principalmente em Viena, onde vivia e onde se digladiavam outros trezentos pianistas profissionais –, ele pôde abandonar definitivamente o gênero. Essa renúncia foi presumivelmente reforçada pelo agravamento da surdez, a qual viria a impedi-lo de estrear, em 1811, seu quinto e último concerto para piano, apelidado Imperador.

 

A primeira incursão de Beethoven no gênero foi o inacabado Concerto para piano em mi bemol, que não integra a lista oficialmente reconhecida por ele e do qual subsiste somente a parte do solista. Prova precoce de seu formidável talento, esse concerto foi escrito quando Beethoven tinha treze anos e assumira o cargo de organista da corte de Bonn, sua cidade natal. Aos dezoito anos, Beethoven compôs a primeira versão do Concerto para piano nº 2 em Si bemol maior, op. 19. Iniciado antes daquele que viria a ser o Concerto nº 1 em Dó maior, op.15, o Concerto em si bemol foi finalizado depois, em 1801, tendo sido por isso designado como segundo. Em nenhuma outra obra do gênero Beethoven empregou tanto tempo (mais de duas décadas) quanto no Concerto em si bemol, revisando-o e recompondo-o. Em 1793 ele revisou o terceiro movimento, Rondo, e, após dois anos, substituiu-o por outro, além de compor novo movimento lento. Em 1798, antes de executá-lo em Praga, Beethoven novamente reescreveu a partitura e, em 1809, compôs uma nova e brilhante cadenza para o primeiro movimento.

 

“Não considero este concerto um dos melhores que escrevi”, disse o autor aos editores, opinião que os críticos descuidadamente acataram. O desmerecimento vindo de Beethoven deve-se em parte a uma severa autocrítica e, em parte, à necessidade de justificar a venda de uma obra já estreada. Segundo ele, a música só deveria ser lançada em público quando o brilho do virtuose já se tivesse dissipado: “é de boa política musical conservar para si próprio os melhores concertos, durante bastante tempo”, confessou aos editores Breitkopf & Härtel.

 

Pode-se dizer que o Concerto em si bemol foi concebido como uma encomenda para si mesmo, a fim de exibir-se em sua técnica pianística. O seu brilho não é, entretanto, mecânico e superficial. O que o difere dos concertos de seus contemporâneos é justamente o revigoramento que promove na remanescente estilística clássica de Haydn e Mozart. O espírito beethoveniano surge ora na leveza das fioriture, em ornamentações da linha melódica, ora em momentos improvisatórios mais enérgicos, como a cadenza e a Eingang, ou entrada em alemão – termo criado por Mozart para designar pequenas improvisações que preparam o retorno do tema. A habilidade beethoveniana, acima de qualquer técnica de execução, é a de comunicar a música, propiciando a retórica dos sons com grandeza e virtude.

 

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

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