Felix MENDELSSOHN
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
O ano de 1835 marcou o início de uma venturosa fase para o compositor alemão Felix Mendelssohn. Ele fora convidado a dirigir a Sociedade dos Concertos da Gewandhaus, de Leipzig, obtendo extraordinário êxito. O sucesso naquela cidade carregava um significado especial para Mendelssohn: lá, um século antes, vivera seu ídolo, Johann Sebastian Bach. O ambiente de Leipzig inspirou Mendelssohn a compor uma grande obra de estilo bachiano, o Oratório São Paulo, concluído em 1836. A obra foi executada durante o Festival de Birmingham de 1837, na Inglaterra. Nessa ocasião, Mendelssohn também estreou seu Concerto para piano n° 2. A essa altura de sua vida, ele já possuía reputação internacional tanto como pianista quanto como compositor, sendo particularmente popular na Inglaterra vitoriana, e firmara-se como um hábil compositor de concertos, gênero ao qual dedicou dezenas de criações. Para piano e orquestra já havia composto o Capricho Brilhante, o Rondó Brilhante e o Concerto n° 1, além do Concerto em lá menor e outros dois concertos para dois pianos.
Embora o período de Leipzig representasse prestígio profissional para Mendelssohn, foi marcado pela morte de seu pai, fato que o abateu profundamente. O alento foi trazido pelo amor de Cécile Charlotte Sophie Jeanrenaud, com quem Mendelssohn se casou em 1837. No Concerto para piano n° 2, iniciado durante a lua de mel, podem ser percebidos elementos exteriores como a tragédia da morte, representada pela tonalidade de ré menor, e momentos calorosamente românticos e suaves, pintados em tonalidades maiores. Na introdução, as primeiras intervenções do piano são hesitantes, e o material melódico é sugerido em poucas notas. Após trinta compassos, uma cascata de oitavas do piano impulsiona toda a orquestra a expor integralmente o tema. Esse material temático sofrerá variações, que se desenvolverão em imitações contrapontísticas e figurações melódicas no piano, com alternância das mãos, à maneira de Liszt e Thalberg. Os solos do piano, no entanto, em simplificada escrita coral, limitarão o caráter virtuosístico do Concerto nº 2 em relação ao seu predecessor, o Concerto nº 1. O compositor Robert Schumann, na sua crítica ao Concerto nº 2 de Mendelssohn, enganou-se ao considerá-lo uma obra menor: “uma produção dos grandes mestres enquanto se recuperam de grandes esforços”. Na verdade, Mendelssohn debruçou-se sobre o Concerto nº 2 por mais de seis meses, fato incomum se levada em conta sua facilidade inventiva.
O Adagio, ligado ao Allegro appasionato por introspectivos arpejos do piano, inicia-se quase desapercebidamente. Nele, a escrita da parte solista assemelha-se às Canções sem Palavras, famoso conjunto de peças para piano de Mendelssohn. O ambiente plácido e devocional do Adagio logo dá lugar ao rítmico Finale. O romantismo apaixonado cede à alegria radiante. A sobriedade do arpejo descendente em ré menor que introduzira o primeiro movimento, se dissipa em um vibrante arpejo ascendente em ré maior, concluindo o concerto.
Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.