Concerto para piano nº 24 em dó menor, K. 491

Wolfgang Amadeus MOZART

(1786)

Instrumentação: flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos e cordas.

 

A vida de Mozart pode ser dividida em três fases. A primeira vai do nascimento aos dezesseis anos de idade (1756 a 1772). Mozart passou praticamente esses dezesseis anos de sua vida em viagens pela Europa, exibindo-se como menino prodígio, estudando o cravo e o violino e aprendendo a compor. A segunda fase é a fase de Salzburg, dos 16 aos 25 anos de idade (1772 a 1781). Embora fosse, provavelmente, o melhor músico da época, ele jamais conseguiu um emprego estável em qualquer das ricas cortes da Europa. Estabeleceu-se em sua cidade natal e tornou-se empregado do Arcebispo Colloredo, príncipe de Salzburg. São dessa fase, principalmente, grande número de obras sacras e a série de peças destinadas ao entretenimento, geralmente denominadas serenatas e divertimentos. A terceira e última fase de sua vida vai dos 25 aos 35 anos (1781 a 1791), fase em que, dispensado do serviço do Arcebispo Colloredo, Mozart viveu em Viena e iniciou uma carreira de músico freelancer. Foi um período extremamente fértil como compositor, quando ele compôs suas obras mais admiráveis.

 

A rica vida musical e intelectual da cidade, as possibilidades de apresentações públicas e as inúmeras encomendas foram o estímulo necessário para que, no universo de 28 concertos para piano (27 concertos, mais o Concerto Rondó, K. 382), dezoito fossem compostos em Viena. Os concertos para piano eram um importante meio de divulgação de suas habilidades como instrumentista e compositor. Mozart frequentemente os compunha para alguma apresentação pública. Por isso, a composição de seus concertos para piano da fase de Viena está intimamente ligada à ascensão e queda de sua popularidade na cidade: de 1781 a 1786, época de maior sucesso, Mozart compôs dezesseis concertos (os dois remanescentes foram compostos em 1788 e em 1791). O Concerto para piano nº 24 em dó menor, K.491, faz parte dessa última fase de sua vida. Segundo seu catálogo temático, a data final da composição foi 24 de março de 1786. Acredita-se que ele o tenha estreado em seu último concerto por assinatura no Burgtheater, em Viena, no dia 07 de abril de 1786.

 

O primeiro movimento (Allegro) possui uma profusão de temas, executados pela orquestra e pelo piano; ao serem apresentados com muita proximidade, criam a dramaticidade própria do movimento. Ao final somos surpreendidos por um desfecho misterioso. Extraordinário em sua simplicidade formal e melódica, o segundo movimento (Larghetto) nos reserva momentos encantadores, como o delicado diálogo das madeiras com o piano. Sua estrutura formal é a de um rondó, forma mais comumente utilizada, na época de Mozart, para o terceiro movimento. Neste caso, o Finale (Allegretto) é um tema com variações. Mozart evita o efeito mais comum de apresentar o tema ao piano para, então, reapresentá-lo, em caráter forte, na orquestra. Ao contrário, ele apresenta o tema, delicadamente, na orquestra, para só depois o ouvirmos ao som do piano, que o reapresenta, surpreendentemente, ainda com muita leveza. A grandiosidade do Finale é adquirida apenas aos poucos, por um acúmulo progressivo de tensão ao longo de todo o movimento. O concerto termina com uma longa e arrebatadora coda.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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