Concerto para piano nº 9, K. 271, “Jeunehomme”

Wolfgang Amadeus MOZART

(1777)

Instrumentação: 2 oboés, 2 trompas, cordas.

 

Aos onze anos, preparando-se com entusiasmo para mais uma viagem a Viena, Wolfgang fez, para piano e orquestra, quatro arranjos de sonatas de diferentes autores, juntando-as três a três para constituírem os três movimentos de cada “concerto”. Esses arranjos, que ele denominou “pastiches”, termo usado na época sem caráter pejorativo, foram incluídos no catálogo Köchel como “Peças de sonatas francesas agrupadas em ‘pasticcio’ e arranjadas em quatro concertos para cravo por Mozart”, e figuram no catálogo como os primeiros quatro concertos de Mozart para piano, de uma série de 27. Para a maioria dos estudiosos, no entanto, o primeiro que pode ser considerado realmente de sua autoria é o Concerto K. 175, em Ré maior, composto em Salzburgo em 1773. Por essa visão, o número de concertos é 23, e o Concerto Jeunehomme recebe o número 5.

 

Aos dezessete anos, Wolfgang está em Salzburgo, submetido ao medíocre ambiente cultural da cidade e às funções que exerce junto ao príncipe arcebispo Colloredo. No entanto, ao compor o Concerto K. 175, reage à superficialidade do estilo galante e apresenta nova profundidade de emoção. Embora não deixe de contar com o virtuosismo do solista, destina à orquestra um papel de fato concertante. Com experiência em todos os gêneros musicais e autonomia conscientemente conquistada, Wolfgang compõe em 1776 mais três concertos. Ele, que adotara sem reservas o piano de martelos (Hammerklavier), em detrimento do cravo, criou, em mais de um terço dos concertos que compôs para esse instrumento, até o último ano de sua vida, uma das contribuições mais notáveis de toda a sua obra de compositor.

 

O ano de 1777, cheio de acontecimentos importantes para Wolfgang, sob todos os pontos de vista, começou com um estímulo inesperado. Chega a Salzburgo a renomada pianista parisiense Mlle. Jeunehomme, e a Mozart pedem que escreva um concerto para a artista. O fato é como uma rajada de entusiasmo para o compositor, extraordinário virtuose, que era quase sempre o único intérprete de suas peças para piano. Assim nasce o Concerto em Mi bemol, K. 271.

 

O Allegro inicial se inicia de maneira excepcional entre os concertos de Mozart. O tutti orquestral apresenta o início do primeiro tema em uníssono, vigoroso, mas é o piano que imediatamente se impõe e o termina. Este primeiro movimento, cheio de energia e otimismo, contém, pela primeira vez, um verdadeiro desenvolvimento temático. Segue-se o comovente Andantino, em dó menor, em que largas frases do piano, em recitativo, expressam emoções íntimas, de forma pessoal mais livre do que em obras anteriores. O rondó final, Presto, em que ressalta especial liberdade formal, se inicia com um grande trecho do solista, cheio de verve, e transcorre com audácia e entusiasmo até o fim dos diálogos entre solista e orquestra.

 

Berenice Menegale
Pianista, diretora da Fundação de Educação Artística.

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