Concerto para piano, op. 13

Benjamin BRITTEN

(1938 | Revisado em 1945)

Instrumentação: 2 piccolos, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.

 

Foi com a ópera Peter Grimes que o compositor inglês Benjamin Britten adquiriu prestígio mundial. Tendo recebido o título de Barão de Aldeburgh, foi reconhecido, ainda em vida, como o mais importante compositor inglês de óperas desde Purcell, e o maior dos novos criadores da cena lírica depois de Puccini. O sucesso de sua carreira, no entanto, se iniciou com suas obras sinfônicas e de câmara: aos 21 anos, ele despertou atenção com o seu Quarteto Fantasia, apresentado em Florença no festival da Sociedade Internacional de Música Contemporânea. Uma vez revelado seu talento, Britten recebeu encomendas de músicas para filmes e concertos radiofônicos. Foi artista exclusivo da gravadora Decca, a quem deu o mesmo brilho que Stravinsky dera ao selo Columbia. As subsequentes obras para solista e orquestra foram, em grande parte, dedicadas a amigos e intérpretes preferidos: o tenor Peter Pears, o clarinetista Benny Goodman e o violoncelista Mstislav Rostropovich.

 

Em 1938 Britten compôs uma obra para si mesmo: o brilhante Concerto para piano, op. 13, uma vitrine de suas habilidades como compositor e como pianista. Segundo ele, a obra foi “concebida a partir da ideia de se explorar tanto as diversas características do piano quanto as suas múltiplas possibilidades – sua qualidade percussiva e sua adaptabilidade em diversas figurações –, de modo que a obra não correspondesse a uma sinfonia com piano, e sim a um concerto ‘de bravura’ com acompanhamento orquestral”. A partitura foi iniciada na primavera de 1938 e concluída apenas três semanas antes da estreia, que teve o compositor como solista, sob a regência de Sir Henry Wood. Ao subir ao palco do Queen’s Hall, em Londres, no festival de verão The Proms da BBC, Britten, aos 24 anos, sabia da expectativa de que seu concerto se tornasse a versão inglesa do gênero que fora celebrizado pelas obras russas de Tchaikovsky e Rachmaninov. Durante um trecho difícil, uma das abotoaduras de sua camisa saltou para o chão. O público, impressionado com o pequeno acidente, ao fim do concerto aplaudiu entusiasticamente o novo compositor-intérprete. Mas todo o esforço para criar uma obra virtuosística e de efeito não animou a crítica especializada, que sempre observara as extrovertidas pirotecnias musicais se precipitarem em superficialidade. Britten descreveu a peça como “simples e direta” e confessou: “se ela soa suficientemente popular e se as pessoas parecem gostar, tudo bem”. Todavia, em 1945, ele revisou o Concerto visando dar-lhe maior profundidade emocional e substituindo o terceiro movimento, Recitativo e ária, por um Improviso – uma sombria passacaglia. Se o segundo movimento sugere La valse de Ravel, a fanfarra burlesca da Marcha final lembra Liszt e é, provavelmente, uma das respostas musicais de Britten à ameaça iminente da Segunda Guerra Mundial.

 

Originalmente designado como “número um”, o Concerto opus 13 é, no entanto, o único concerto para piano de Britten, que se dedicou a criar outras obras “concertantes” com piano – Jovem Apolo, Diversões (para mão esquerda) e Rondó concertante –, porém, sem utilizar o título comum ao gênero. A versão revista do Concerto para piano foi estreada em julho de 1946, com Noel Mewton-Wood ao piano e o compositor conduzindo a Filarmônica de Londres.

 

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais e professor na Universidade do Estado de Minas Gerais

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