Concerto para violoncelo em Dó maior, op. 37

Erich Wolfgang Korngold

(1946)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 2 trompas, 2 trompetes, 2 trombones, tuba, tímpanos, percussão, celesta, harpa, piano, cordas.

 

Nascido em Brno, República Tcheca, Erich Korngold mudou-se com os pais, aos dois anos, para Viena. Comparado a Mozart como um dos mais notáveis fenômenos musicais da história, aos treze anos já havia criado obras sinfônicas complexas ao estilo de Richard Strauss e Gustav Mahler – que puderam pessoalmente constatar a genialidade do pequeno prodígio. Korngold atingiu o ápice da carreira de compositor aos 23 anos com a ópera A Cidade Morta, estreada simultaneamente em Hamburgo e Colônia, em 1920. Após esse trabalho, sua música não mais evoluiu estilisticamente.

 

Aos 37 anos, Korngold encontrou um lugar no qual poderia dar vazão à sua escrita fluente e orquestração precisa: os estúdios da Warner, em Hollywood. Ao lado de Max Steiner, Miklós Rózsa, Bernard Herrman e Franz Waxman, Korngold completa a plêiade de compositores da Era de Ouro do Cinema, constituída em sua maioria por emigrantes judeus fugindo da perseguição nazista na Europa. Todos os grandes estúdios cinematográficos de Hollywood pertenciam a judeus – Universal, Paramount, Fox, Columbia, MGM e Warner – o que facilitou a absorção de diversos artistas de ascendência judia.

 

Um dos mais distintos trabalhos de Korngold – e o seu último para o cinema – é a trilha para Deception, filme noir lançado em 1946. Na trama, o violoncelista Karel Novak (Paul Henreid), envolve-se com uma antiga amante, a misteriosa pianista Christine Radcliffe (Bette Davis). Christine, acossada pelo irascível compositor Alexander Hollenius (Claude Rains), assassina-o na noite de estreia de sua última composição: um concerto para violoncelo, a ser executado por Novak. Para as cenas nas quais o personagem ensaia e estreia a obra, Korngold escreveu um concerto para violoncelo e, posteriormente, o transformou em uma composição autônoma. Transportando a tradição operística wagneriana para o cinema, Korngold criou temas musicais para retratar cada personagem principal. Concebido em um único movimento, o Concerto alterna momentos tempestuosos e líricos. A abertura é dramática, turbulenta, e as três notas repetidas no início do tema aludem a alguém que insistentemente bate à porta. O tema amoroso emoldura o romance entre os protagonistas e proporciona um curto movimento lento central. Antes do heroico desfecho, o tema das três notas reaparece num nervoso fugato e introduz a cadência final do solista.

 

O Concerto para violoncelo, ao lado do Concerto para violino, marca a despedida de Korngold da indústria cinematográfica e o seu retorno aos palcos e à música de concerto. A obra teve sua primeira execução em 29 de dezembro de 1946, pela violoncelista norte-americana Eleanor Aller-Slatkin junto à Orquestra Filarmônica de Los Angeles, sob a regência de Henry Svedrofsky. Eleanor gravou a trilha de Deception e, curiosamente, dublou, junto com seu pai, o também violoncelista Gregory Aller, as mãos do personagem violoncelista no filme, escondendo-se por trás do ator e encaixando o braço por dentro do terno dele para assim tocar o violoncelo.

 

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

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