Concerto para violoncelo nº 1 em Mi bemol maior, op. 107

Dmitri SHOSTAKOVICH

(1959)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, trompa, tímpanos, celesta, cordas.

 

Shostakovich dedicou os dois concertos que escreveu para violoncelo ao seu ex-aluno do Conservatório de Moscou, o promissor Mstislav Rostropovich. Aos dezoito anos, Rostropovich havia chamado atenção do público soviético ao ganhar a medalha de ouro no primeiro concurso da União Soviética para jovens músicos. Sergei Prokofiev dedicara-lhe duas obras: a Sonata para Violoncelo (op. 119), em 1949, quando o violoncelista tinha apenas vinte e dois anos de idade; e a Sinfonia-Concerto (op. 125), em 1951. Quando Shostakovich compôs seu Concerto para violoncelo no 1, Rostropovich estava com trinta e dois anos de idade e pronto para iniciar uma brilhante carreira internacional. A composição teve início em junho de 1959, e em 20 de julho a partitura completa já estava pronta. A redução para piano e violoncelo se fez em uma semana e, na noite de 2 de agosto, Rostropovich recebeu em casa a sua cópia. Em quatro dias aprendeu toda a obra de cor e correu, acompanhado do pianista Alexander Dedyukhin, para a casa de campo de Shostakovich, a fim de tocar-lhe a música. O Concerto foi estreado em 4 de outubro de 1959, em Leningrado (São Petersburgo), com Rostropovich ao violoncelo e a Orquestra Filarmônica de Leningrado, sob a direção de Yevgeny Mravinsky. O sucesso estrondoso fez com que a obra tivesse sua estreia em Moscou apenas cinco dias depois, com a Orquestra Filarmônica de Moscou e Rostropovich ao violoncelo, regência de Aleksandr Gauk. Já em menos de um mês Rostropovich dava a primeira apresentação internacional do Concerto para violoncelo no 1, na Filadélfia, com a Orquestra Sinfônica da Filadélfia, sob a regência de Eugene Ormandy. O que poucos sabem é que Shostakovich esteve presente a esse concerto. Entre 22 de outubro e 21 de novembro de 1959, Shostakovich foi um dos membros da delegação soviética que viajou aos Estados Unidos como parte de um intercâmbio cultural promovido pelo governo norte-americano. Lá ele não apenas assistiu a apresentações de suas obras como firmou as bases para a primeira gravação do seu Concerto para violoncelo no 1 com o mesmo time de intérpretes, lançada no ano seguinte.

 

O Concerto tem uma estrutura incomum. Seus quatro movimentos são organizados em duas partes. A primeira parte contém o primeiro movimento e, a segunda, os movimentos restantes, que são executados sem intervalo. O primeiro movimento (Allegretto) é vigoroso e o mais dramático dos quatro. O segundo (Moderato), doce e calmo, possui, em seus últimos minutos, um diálogo de rara beleza entre a celesta e o violoncelo tocando harmônicos. O terceiro movimento (Cadenza) é a cadência do solista, que faz uma bela ponte entre a leveza do segundo movimento e a agitação do último. O quarto movimento (Allegro con moto) é o mais brilhante de todos e, como habitualmente na música russa, desde Tchaikovsky, busca sintetizar o material musical dos movimentos anteriores.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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