Concerto para violoncelo nº 1, op. 36

Alberto GINASTERA

(1968)

Considerado o maior compositor argentino e um dos mais importantes da América Latina e de seu tempo, Aberto Ginastera conseguiu combinar em sua música a rudeza do gaúcho pampeano e a reflexão íntima de quem contempla a vastidão das pastagens argentinas.

Nascido em Buenos Aires, Alberto Evaristo Ginastera iniciou cedo os estudos musicais. Filho de imigrantes – o pai era catalão e a mãe, italiana –, frequentou o Conservatório Nacional de Música, no qual assumiria a cátedra de composição após graduar-se em 1938. Sob os auspícios da Fundação Guggenheim, visitou os Estados Unidos entre 1945 e 1947, quando, em Tanglewood (Massachusetts), estudou sob a orientação de Aaron Copland. De volta a Buenos Aires em 1948, passou a lecionar composição em diversas universidades, contribuindo para a formação de novos compositores, entre eles Astor Piazzolla e Marlos Nobre.

A obra de Ginastera abrange todos os gêneros musicais – óperas, balés, obras orquestrais, concertos, cantatas, obras para piano e música de câmara, além de música para teatro e cinema – e pode ser considerada, segundo ele, em três períodos: “nacionalismo objetivo”, “nacionalismo subjetivo” e “neoexpressionismo”. O Concerto para violoncelo nº 1 pertence a esse último período, que abarca obras escritas entre 1958 e 1983. Nas obras do “neoexpressionismo”, como explica o próprio autor, “não existem células melódicas ou rítmicas populares e nem qualquer simbolismo. Há, no entanto, constantes elementos argentinos, como ritmos fortes e obsessivos, e adagios meditativos, sugerindo a tranquilidade dos Pampas”. Sem a intenção de ser um compositor nacionalista, Ginastera, ainda que renunciasse ao rico material folclórico argentino, sempre buscou refletir em seus trabalhos os estados de alma trazidos pela natureza de seu país: “sempre que cruzo os Pampas, meu espírito fica inundado por sensações contrastantes, ora alegria, ora melancolia, produzidas por aquela imensidão sem limites e pela transformação que ocorre no campo ao longo do dia.”

O Concerto para violoncelo nº 1 é notável por suas melodias provocativas, cores intensas, ritmos de dança latinos e virtuosismo da parte solo. É uma das mais belas obras de Ginastera, marcada também pela percussão abundante no acompanhamento orquestral. No entanto, surgiu em um conturbado momento de sua vida pessoal: a separação de sua primeira esposa, duas demissões e a censura de sua ópera, Bomarzo, aplicada pelo regime ditatorial de Juan Carlos Onganía, ato que resultou em um colapso criativo do compositor e em sua saída da Argentina. Por outro lado, foi nesse período que iniciou seu romance com Aurora Nátola, violoncelista de renome internacional com quem viria a se casar em 1971. Discípula e amiga de Pablo Casals, ela nasceu em Buenos Aires e atuou como divulgadora da obra de Ginastera mesmo antes de se casarem. Tornou-se colaboradora do marido e estreou todas as obras a ela dedicadas, a citar, a Sonata para Violoncelo e Piano e o Segundo Concerto para Violoncelo, escrito para celebrar o décimo aniversário do casal. Não se pode afirmar o quanto Aurora teria inspirado Ginastera a compor seu Concerto para violoncelo nº 1, mas ela, certamente, o auxiliou na revisão substancial da obra e realizou a estreia de sua versão definitiva, em 1978, junto à Orquestra Sinfônica Nacional de Washington, sob a regência do célebre violoncelista Mstislav Rostropovich.

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais e professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

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