Da Itália, op. 16

Richard STRAUSS

(1886)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, percussão, harpa, cordas.

 

Em 1884, Hans von Bülow percebeu o incrível talento do jovem Strauss, de vinte anos, que lutava para tornar-se regente. Decidiu não apenas ajudá-lo em sua estreia frente a uma orquestra profissional como, em novembro de 1885, convidou-o a substituí-lo no posto de Diretor Musical da Orquestra de Meiningen. Richard Strauss havia recebido, até aquele momento, um ensinamento musical estritamente clássico. Em Meiningen ele conheceu o violinista e compositor Alexander Ritter, que lhe apresentou as óperas de Wagner e os poemas sinfônicos de Liszt. O poema sinfônico é um gênero orquestral no qual um poema, ou um programa, fornecem a base para a narrativa musical. Strauss percebeu, então, que uma peça instrumental poderia ser inspirada por ideias extramusicais, ao contrário da expressão puramente abstrata da música clássica tradicional. Ele logo abandonaria o estilo musical conservador que herdara do pai e começaria a escrever seus poemas sinfônicos.

 

Ficou em Meiningen por apenas cinco meses e, em abril de 1886, aceitou o posto de assistente da Ópera de Munique, sua cidade natal. Como suas obrigações no novo emprego só começariam em agosto, ele decidiu seguir os passos de Goethe, Mendelssohn, Brahms e tantos alemães que, antes dele, fizeram o mesmo: viajou para a Itália. Passou cinco semanas, entre abril e maio de 1886, visitando Verona, Bolonha, Florença, Roma, Nápoles e Sorrento. A viagem seria uma das melhores de sua vida e o inspiraria a escrever seu primeiro poema sinfônico: Da Itália. A obra começou a ser esboçada na viagem e seria finalizada em 12 de setembro do mesmo ano. A estreia aconteceu no dia 2 de março de 1887, em Munique, sob a batuta do compositor. O concerto causou escândalo, o que ajudou a aumentar a popularidade de Strauss. Em pouco tempo seu nome correu o mundo e ele passou a ser convidado a reger suas obras nos maiores teatros da Europa.

 

Da Itália foi dedicada a Hans von Bülow. O primeiro movimento (No campoAndante), de caráter pastoral, busca reproduzir a experiência de se estar na Villa d’Este, em Tivoli, e poder ver o campo, nos arredores de Roma. O segundo movimento (Nas ruínas de RomaAllegro molto con brio), ao mesmo tempo majestoso e meditativo, alterna visões fantásticas de um passado de glória com momentos de profunda melancolia. O terceiro movimento (Na praia de SorrentoAndantino), repleto de efeitos musicais extremamente originais, evoca o canto dos pássaros, o murmúrio do mar e as delicadas vozes da natureza. O Finale (A vida do povo napolitanoAllegro molto) é uma louca fantasia orquestral, que tenta retratar a agitação colorida de Nápoles. Neste movimento, ouvimos trechos de Funiculì, Funiculà, canção escrita em 1880, por Luigi Denza, para comemorar a abertura do primeiro bondinho do Monte Vesúvio. Strauss, desavisado, achou que citava uma canção folclórica napolitana. Da Itália foi, nas palavras do compositor: “meu primeiro passo em direção à independência”.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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