Dois Prelúdios: La puerta del vino e Les collines d’Anacapri

Claude DEBUSSY

La puerta del vino (1912/1913)
Instrumentação: 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, 2 harpas, cordas.

Les collines d´Anacapri (1909/1910)
Instrumentação: Piccolo, 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, 2 harpas, celesta, cordas.

 

De acordo com o musicólogo Stefan Jarocinski, na Paris do final do século XIX “as ideias do Impressionismo e do Simbolismo pairavam no ar e permeavam tudo – literatura, música, filosofia e pintura”. O movimento impressionista surgira em razão de uma série de exposições organizadas entre 1874 e 1886 por um coletivo de artistas que buscavam, a partir da observação empírica fora de seus estúdios, representar aquilo que o artista via e não aquilo que sabia. Coincide com o último ano dessas exposições a publicação do Manifesto Simbolista, no qual Baudelaire, Verlaine e Mallarmé são nomeados os expoentes máximos de um movimento artístico que vinha se desenvolvendo havia quase três décadas e que se caracterizava pelo uso de metáforas incomuns, por associações entre harmonias e cores, pela ideia do misterioso, do inefável e mesmo do esotérico, e pela preocupação em combinar sentimento e sensação, intelecto e sensibilidade física. Embora público e crítica associem Debussy ao Impressionismo, o compositor rejeita tal associação em carta endereçada a seu editor, Jacques Durand, em 1908: “Estou tentando fazer ‘outra coisa’ e criar, – de algum modo – realidades – isso que os imbecis chamam ‘impressionismo’, termo mais mal empregado impossível, sobretudo pelos críticos de arte”. Foi ao movimento simbolista, em realidade, que Debussy se associou, seja em termos de princípios estéticos, uso de temas ou relações sociais.

 

Debussy compôs para piano dois cadernos de doze Prelúdios cada um, entre dezembro de 1909 e início de 1913. Seus títulos referem-se àquilo que inspira cada prelúdio, seja lenda, personagem literário, verso, local ou imagem, e aparecem ao final de cada peça precedidos por reticências. Mais poéticos que picturais, os Prelúdios não são anedóticos, descritivos ou programáticos. Pretendem sugerir musicalmente os múltiplos sentimentos e sensações desencadeados pelo objeto de seu título. Embora acredite-se que o prelúdio As colinas de Anacapri seja simplesmente inspirado nas escarpas de Anacapri, em Nápoles, o pianista e musicólogo Roy Howat sugere que sua origem tenha sido o rótulo de um tradicional vinho da região. Sobre La puerta del vino, no entanto, sabe-se ter sido inspirado por um cartão postal, supostamente enviado por Manuel de Falla, de um portal homônimo no complexo palaciano de Allambra, em Granada. Enquanto este prelúdio caracteriza-se por “bruscas oposições entre violência extrema e apaixonada doçura”, As colinas de Anacapri evocam com vibrante leveza e sensualidade um certo exotismo de caráter popular.

 

Os Prelúdios de Debussy já foram integralmente orquestrados ao menos quatro vezes, por Peter Breiner, Luc Brewaeys, Hans Henkemans e Colin Matthews. De acordo com Matthews, a ideia da orquestração dos Prelúdios tem início em um convite de Mark Elder, regente principal da Hallé Orchestra, para a abertura da temporada de 2001/2002. Como compositor residente da orquestra, Matthews concluiria o projeto de orquestração integral dos Prelúdios em 2007.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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