La filla del marxant: Suíte

Eduard TOLDRÀ

(1934)

Instrumentação: 2 flautas, oboé, 2 clarinetes, fagote, 2 trompas, 2 trompetes, 2 trombones, tímpanos, percussão, harpa, cordas.

 

Figura de destaque no cenário musical catalão, no período anterior à Guerra Civil Espanhola e durante o regime franquista, Eduard Toldrà atuou como violinista, regente e compositor. Em 1906 ingressa na Escuela Municipal de Música de Barcelona e em 1912 conquista o Premio Extraordinario de Violín. Ainda em 1912 apresenta-se pela primeira vez com seu quarteto de cordas, o Quartet Renaixement, grupo com que iria tocar centenas de vezes nos dez anos seguintes. Para esse quarteto compôs em 1921 a primeira e uma de suas mais importantes obras, Vistes al mar, e com ele executou a integral dos quartetos de Beethoven pela primeira vez em Barcelona.

 

Estreia como regente em 1916, mas só se estabelece como figura de destaque quando é nomeado diretor do grupo amador Orquestra de Estudios Sinfónicos, que dirige de 1924 a 1934. Após um período dedicado à composição e ao ensino de violino na mesma escola em que estudara, Toldrà assume, em 1944, a direção da Orquestra Municipal de Barcelona (hoje, Orquestra Simfónica de Barcelona i Nacional de Catalunya), função que ocuparia até sua morte.

 

Como compositor, Eduard Toldrà é comumente reconhecido por suas canções, nas quais concilia tradição popular catalã com tendências neoclássicas e impressionistas, apresentando especial cuidado no tratamento do texto. Suas linhas melódicas são com frequência derivadas da prosódia característica dos poemas musicados. A exploração dos limites entre texto e música reflete seu entrosamento com a chamada Geração de 27 — grupo de poetas, pintores, músicos e toureiros que esteve à frente da produção artística e cultural no país entre o ano de 1923 e a Guerra Civil, entre os quais se destacaram Jorge Guillén, Federico García Lorca, Salvador Dalí, Luis Buñuel, Rodolfo Halffter. Sua ópera cômica El giravolt de maig (O girassol de maio) é talvez o melhor exemplo de seu trabalho com poesia e música. Lançada em 1928, é hoje um dos mais ilustrativos exemplos do gênero tal como se desenvolveu na Espanha da época. Ademais, a positiva receptividade obtida estimulou Toldrà a explorar o potencial dramático e cênico em seu trabalho com texto e música.

 

Esse novo interesse reforça-se quando do convite de Adrià Gual – pintor, pioneiro do cinema catalão e dramaturgo de tendências simbolistas – para compor a música para a peça Lionor o La filla del marxant, obra teatral inspirada em uma canção popular homônima. Gual queria uma música que pudesse ser executada em alguns momentos ao longo da peça. Porém, o resultado final desagrada Toldrà, que não chega a terminar a obra. Seu mecenas Manuel Claudell o convence a não abandonar o trabalho, que, por fim, rende a suíte orquestral La filla del marxant (A filha do mercador), em cinco movimentos: Introducció i escena (Allegro con brio); Dansa (Allegretto tranquilo); Monòleg de Lionor (Lento assai); Interludi (Scherzo); Les ballades (Poco maestoso). A obra é estreada pela reconhecida Orquestra Casals sob a regência do próprio compositor em 16 de outubro de 1934.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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