Sinfonia nº 3 em lá menor, op. 56, “Escocesa”

Felix MENDELSSOHN

Quando Felix Mendelssohn contava vinte anos de idade, seu pai, rico banqueiro de Berlim, decidiu patrocinar-lhe uma viagem de três anos pela Europa, para que o filho tentasse uma carreira no exterior. Entre 1829 e 1832 Felix visitou o Reino Unido, Bavária, Áustria, Suíça, Itália e França. Em 30 de julho de 1829, em Edimburgo, Mendelssohn encontrou a inspiração para a sua Sinfonia Escocesa: “hoje visitamos o castelo de Holyrood, onde a Rainha Maria viveu e amou. A capela ao lado está sem teto e repleta de mato e erva. Foi neste altar, hoje em ruínas, que ela foi coroada Rainha da Escócia. Acredito ter encontrado, hoje, o início de minha Sinfonia Escocesa”. Durante o inverno de 1830/31, em Roma, Mendelssohn começou a compor sua Sinfonia nº 3. Mas logo teve de deixá-la de lado, pois sua atmosfera não condizia com o clima ensolarado da Itália: “não consigo recuperar o cenário enevoado da Escócia”. Apenas dez anos depois ele retomaria a composição da Terceira, terminando-a em Berlim, em janeiro de 1842. A primeira apresentação aconteceu em março, em Leipzig, sob a regência do autor. Em 13 de junho Mendelssohn regeu sua Sinfonia nº 3 em um concerto com a Philharmonic Society, em Londres. O enorme sucesso o encorajou a dedicá-la à Rainha Vitória, que tanto admirava sua música.

 

De acordo com Mendelssohn, os quatro movimentos devem ser tocados sem interrupção. O primeiro inicia-se com uma triste introdução lenta (Andante con moto). O primeiro tema, nas cordas em pianissimo, é apresentado tão logo atingimos o Allegro un poco agitato. O segundo tema, também executado nas cordas, ao invés de contrastante, apresenta-se como uma variação do primeiro tema. O movimento termina com fragmentos da introdução lenta (Andante come prima), que nos conectam ao movimento seguinte.

 

O segundo movimento (Vivace non troppo) é um scherzo sem a seção central (trio). O primeiro tema, desenvolvido por todo o movimento, é prontamente executado pelo clarinete. O segundo tema, ligeiramente mais leve que o primeiro, é apresentado pelas cordas sempre em pianissimo.

 

Após curta introdução, o primeiro tema, melodia de rara beleza, é apresentada pelos violinos. O segundo tema, de caráter marcial, é tocado pelas madeiras e trompas. Os dois temas serão combinados ao longo de todo o movimento. Ao final, reminiscências da introdução nos conduzem ao movimento seguinte.

 

O quarto movimento (Allegro vivacissimo) é de uma vitalidade ímpar. Seu primeiro tema, alegre e ritmicamente complexo, surge logo no início com os violinos. O segundo é apresentado após um tutti orquestral, primeiramente pelo primeiro oboé e pelos dois clarinetes e é, em seguida, ouvido nas madeiras. Os dois temas são mesclados até o ponto em que clarinete e fagote, em uma passagem tranquila, reapresentam o segundo tema e preparam o aparecimento da coda independente (Allegro maestoso assai) que fecha a sinfonia majestosamente.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais e Fundação de Educação Artística, autor dos livros Música menor e Os sapatos floridos não voam.

anterior próximo