Minas – Vertentes, Mistério, Celebração

Oilliam Lanna

(2015)

Obra encomendada. Estreia mundial em 17 de setembro de 2015, na Sala Minas Gerais.

Instrumentação: piccolo, 4 flautas, 3 oboés, corne inglês, 3 clarinetes, clarone, requinta, 3 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 4 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.

 

Oiliam Lanna é considerado o principal compositor mineiro da atualidade e um dos maiores do Brasil. É também regente, pianista e pedagogo, além de ser uma dessas pessoas essenciais que multiplicam a cultura e elevam o nível artístico do meio em que vivem, assim como foram para nós, no passado, Sergio Magnani, Arthur Bosmans, Hans-Joachim Koellreutter.

 

Oiliam Lanna – alma nobre e altruísta – é um músico completo que, como maestro e pianista, conhece a fundo o repertório de todas as épocas e consegue revelar os tesouros de cada obra que executa. Como pedagogo, ele jamais busca fazer seguidores. Seu ensino é do tipo que conduz o aluno, acima de tudo, à independência. Como compositor, dá voz à sua personalidade e cria seu estilo próprio. Sua orquestração refinada tem a escolha apurada do timbre como característica principal.

 

Minas é a segunda obra encomendada a Oiliam Lanna pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Em 2010 foi a vez de Rituais do tempo. Minas não é sobre música mineira, no sentido de música tradicional que passou a ser associada a Minas Gerais. O título fala das lembranças que o compositor tem de sua terra natal – a cidade de Visconde do Rio Branco, na Zona da Mata mineira: as montanhas, as paisagens, a roça. São as suas evocações pessoais que emergem nesta obra. Para Oiliam Lanna, os sons de sinos não são mais importantes que a montanha que se contempla da janela. Sinos, montanhas, janela, tudo faz parte de um único quadro. Nas palavras do compositor:

 

“Vertentes, mistério, celebração… Minas é atravessada por traços de luzes… cores… morros, vales… água e lua… sons, gostos, aromas… afetos, que se encarregam de transformar, bem à sua maneira, o tempo e a lembrança.”

 

Os subtítulos não delimitam movimentos ou seções, mas são traços que alimentam a composição de forma recorrente. Aqui, mais uma vez, as palavras ganham significados pessoais. Vertentes tem a ver com vales, com fonte, com verter; Mistério, com silêncio, com o insondável, o indizível, o velado; e Celebração, com vida, movimento, natureza, com tudo que envolve a crença.

 

Oiliam Lanna pensa colorido. Por isso, para ele, os acordes têm cor. É fascinante vê-lo trabalhar com seus inúmeros rascunhos coloridos. Por isso é possível encontrar certo colorido mineiro nesta sua obra, mas, como dito antes, não da música mineira, mas da paisagem mineira. Não há melodias, apenas fragmentos melódicos. Gestos rápidos que formam acordes, e acordes que se desmembram em curtos fragmentos. Sobreposição de ressonâncias ora afins, ora contrastantes, como numa mudança de paisagem.

 

Minas é dedicada pelo autor ao maestro Fabio Mechetti e à Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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