Antonín DVORÁK
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.
Em 1871 Dvorák deixou a orquestra do Teatro Provisional, onde havia atuado como viola principal desde a sua fundação, em 1862, e publicou uma notícia, nos anúncios musicais de Praga, informando que ele agora era um compositor e estava trabalhando em uma nova ópera, Rei e Carvoeiro, op. 14. Fortemente influenciada pelas óperas de Richard Wagner, e especialmente pela música de Os Mestres Cantores de Nuremberg, Rei e Carvoeiro era sua segunda ópera e sua segunda tentativa de entrar no circuito operístico de Praga. Mas, em setembro de 1873, em meio aos ensaios, o regente (e famoso compositor) Bedrich Smetana precisou retirá-la da programação pela dificuldade dos cantores em executá-la. Dvorák, abalado, destruiu um bom número de composições dos anos anteriores e decidiu fazer sua primeira e significativa mudança no estilo composicional.
Se até aquele momento suas obras eram fortemente influenciadas pela música de Mendelssohn, Schumann e Wagner, o compositor agora sentia a necessidade de se voltar para uma sensibilidade essencialmente clássica, de caráter mozartiano e beethoveniano, com certa contaminação eslava. A música folclórica eslava era, para ele, uma novidade que agora se fazia necessária. Dentre as primeiras obras desse novo período, que se inicia no ano de 1873, encontra-se o Quarteto de Cordas no 5 em fá menor, op. 9, embrião do Romance em fá menor, op. 11. O gênero Romance, muito popular no final do século XVIII e início do XIX, é uma espécie de canção, com ou sem palavras, em que a linha melódica principal reina absoluta sobre um tecido musical que lhe serve de sustentáculo. Mozart, Beethoven e Schubert compuseram inúmeros Romances (vocais e instrumentais). Nada melhor que um Romance, portanto, para afastar-se de Wagner e penetrar no universo clássico.
Quando recebeu o convite do violinista Josef Markus para compor uma obra para violino e orquestra, Dvorák resolveu reciclar parte do material do seu Quarteto de Cordas no 5, que se encontrava inédito e sem perspectivas de ser estreado (foi de fato estreado apenas em 1930, vinte e seis anos após a morte do compositor). A estreia do Romance em fá menor se deu dia 9 de dezembro de 1877, em Praga, com Josef Markus ao violino e a orquestra do Teatro Provisional, sob a regência de Adolf Cech.
O Romance inicia-se com uma delicada introdução da orquestra. Em seguida ouvimos, no violino, o tema do segundo movimento do Quarteto de Cordas no 5 – uma melodia de raro encanto –, aqui transformado em tema principal do Romance. O segundo tema, com caráter parecido, surge também no violino, enquanto a orquestra apresenta fragmentos que nos remetem ao primeiro tema. A seção central, mais dramática, contém trechos de extremo virtuosismo para o solista, enquanto a orquestra encarrega-se de sustentar a dramaticidade através de uma série de ataques incisivos. As madeiras anunciam a volta da atmosfera inicial e o violino aproveita a oportunidade para reapresentar seus temas favoritos. Uma levíssima e breve coda fecha a música.
Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.