Sinfonia de câmara nº 1, op. 9b

Arnold SCHOENBERG

(1906 | Revisada em 1935)

Instrumentação: piccolo, 3 flautas, 3 oboés, corne inglês, requinta, clarinete, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, cordas.

 

A obra de Arnold Franz Walter Schoenberg marca o fastígio e o ponto de ruptura da tradição musical do Ocidente. A crise se manifestará tardiamente na historiografia: o sistema tonal em permanente expansão, da Primeira Escola de Viena (século XVIII) à belle époque, perderá o papel de foco da narrativa.

 

Arnold Schoenberg nasceu em Viena. De modesta família judia, não recebeu treinamento formal em música. Conselhos de Alexander Zemlinsky (compositor e regente, aluno de Fuchs e Bruckner, que deu aulas de contraponto a Schoenberg) resultaram na execução pública do Quarteto em Ré maior, em março de 1898, repetido na temporada de 1899. Todavia, o sexteto para cordas Noite transfigurada, op. 4 (1899) foi rejeitado por conter um acorde de nona em inversão – que “não existia”. Em dezembro de 1900 o público recebeu com protestos canções dos ciclos op. 1 (1897), op. 2 (1899) e op. 3 (1899/1903).

 

Schoenberg esposou Mathilda, irmã de Zemlinsky, em outubro de 1901, e em dezembro o casal mudou-se para Berlim, onde ele assumiu a direção musical de um cabaré literário. Impressionado com as partituras inconclusas dos Gurre-Lieder (1900/1911) e do poema sinfônico Pelleas und Melisande, op. 5 (1903), Richard Strauss obteve para o músico a Bolsa Liszt e o posto de professor de Composição no Conservatório Stern. De retorno a Viena, em julho de 1903, Schoenberg trazia Pelleas und Melisande concluído. No ano seguinte, Alban Berg e Anton Webern tornam-se seus alunos. Após assistir a um ensaio de Noite transfigurada, Gustav Mahler passou a oferecer seu apoio constante. O público recebeu Pelleas und Melisande com frieza em janeiro de 1904. Seguiu-se a composição de dois ciclos de canções, op. 6 (1903/1905) e op. 8 (1904), e o Primeiro quarteto de cordas, op. 7 (1905).

 

A Primeira sinfonia de câmara, op. 9, data de julho de 1906 e foi composta para quinze instrumentos. Ela retoma o problema do movimento único, que o ocupara na Noite transfigurada, de 1899, no Pelleas und Melisande, de 1903, e no Primeiro quarteto de cordas, de 1905. O plano formal inclui: I. Exposição; II. Scherzo; III. Desenvolvimento (com elementos do Scherzo incluídos); IV. Adagio; V. Recapitulação (de temas da Exposição em ordem variada, em contraponto, e com temas do Adagio incorporados). Schoenberg combina portanto características da chamada forma sonata (exposição, desenvolvimento, recapitulação), geralmente presente no primeiro movimento de sonatas e sinfonias do período clássico, com características da sinfonia clássica em quatro movimentos, sintetizadas num único movimento.

 

A obra de Schoenberg se divide em quatro períodos. Inicialmente ele emprega a tonalidade como referência central, mas, em 1908, é o primeiro a abandoná-la, na fase expressionista. O período compreendido entre 1920 e 1936 é o serial. A quarta fase emerge nos anos 1930, com maior diversidade estilística e retornos esporádicos à composição tonal. O segundo e o terceiro períodos se abrem com crises de técnica composicional, cujas consequências se projetarão sobre a música em termos gerais. A Primeira sinfonia de câmara antecipa a primeira crise e pode ser considerada a obra mais ousada do período tonal. O autor arranjou-a para grande orquestra em 1922. Revisada em 1935, essa versão recebeu o número de catálogo 9b.

 

Carlos Palombini
Musicólogo, professor da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais.

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