Sinfonia em Mi bemol maior, op. 18, nº 1

Johann Christian Bach

(1770/1781)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.

 

Dos vinte filhos que teve Johann Sebastian Bach, pelo menos três tornaram-se grandes compositores: seu filho mais velho, Wilhelm Friedmann Bach (cuja música era a preferida do pai), Carl Philipp Emmanuel Bach, seu segundo filho, e Johann Christian Bach, seu filho caçula. Do ponto de vista das transformações históricas, estes dois últimos foram determinantes, talvez bem mais que o pai. Philipp Emmanuel, dentre outras razões, por ter sido a fonte fundamental de Joseph Haydn, lapidador do Classicismo musical; Johann Christian, pela ascendência que exerceu sobre W. A. Mozart, com quem teve o primeiro contato em 1764, em Londres, onde residia, durante uma das muitas turnês que o jovem músico fazia pela Europa, sob a tutela do pai.

 

Se a linguagem de Friedmann, apesar de sólida, soa anacrônica, e embora a música de Philipp Emmanuel traga a ambiguidade e a complexidade do Rococó, Johann Christian não deixa margem a dúvidas: seu idioma já é genuinamente Clássico, formal, tímbrica e estruturalmente, abraçando, na sua música instrumental, a forma sonata e a melodia acompanhada (em detrimento da polifonia). Isso talvez em decorrência de sua formação musical ligada à Escola Italiana (Johann Christian Bach esteve de 1754 a 1762 na Itália, aonde fora para estudar contraponto com o Padre Martini, e ali cumpriu diversas funções, dentre as quais a de organista da Catedral de Milão) e também talvez por seu envolvimento com a ópera, gênero ao qual se dedicou vivamente, tanto na Itália quanto na Inglaterra, onde veio a fixar residência a partir de 1762. Note-se, com isso, que as semelhanças entre a linguagem de J. C. Bach e a de Mozart estão para muito além das meras coincidências.

 

Sua obra, como a de seus contemporâneos, é pródiga: obras para piano, concertos para instrumentos solistas, obras de música de câmara, diversas peças de música sacra e uma infinidade de óperas.

 

As seis sinfonias abrigadas sob o op. 18 não têm data precisa de composição, mas, ao que parece, foram escritas entre 1770 e 1781 e publicadas nesse último ano. Esta série está entre as obras instrumentais mais bem-acabadas de Johann Christian Bach. A primeira das seis sinfonias op. 18 traz o diferencial de ter sido composta para orquestra dupla, como serão a terceira e a quinta da mesma série.

 

Isso não foi exatamente novidade no repertório orquestral, mas teve a graça de trazer algo do idioma concertante e da prática do diálogo entre dois grupos instrumentais, herança da Escola Veneziana. J. C. Bach faz a seguinte distribuição entre os dois grupos: no primeiro, cordas, dois oboés, fagote e duas trompas; no segundo, cordas e duas flautas.

 

Resta dizer que os instrumentos de sopro têm, nessas obras, uma função significativa. Com isso, J. C. Bach se põe em uma posição ambígua: por um lado, ele lança possibilidades expressivas para a orquestra sinfônica. Por outro, ele faz uma releitura, à maneira do século XVIII, de toda a sua herança barroca.

 

Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

anterior próximo