Sinfonia em mi menor, op. 7, “Renascer”

Mieczyslaw Karlowicz

(1902)

Instrumentação: Piccolo, 3 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, cordas.

 

Mieczyslaw Karlowicz foi, com Karol Szymanowski (1882-1937), um dos mais talentosos compositores poloneses do início do século XX. Sua linguagem musical romântica, oriunda da música de Wagner, Tchaikovsky, Grieg e Richard Strauss, emana das profundas influências que recebeu ao longo de seus estudos em Heidelberg, Praga, Dresden, Berlim e Varsóvia.

 

Frequentou alguns dos encontros da Polônia Jovem em música (mais tarde Cooperativa Editorial dos Jovens Compositores Poloneses), um círculo de debates criado pelos jovens compositores Karol Szymanowski, Apolinary Szeluto, Grzegorz Fitelberg e Ludomir Rózycki (o grupo integrava o famoso movimento Polônia Jovem, que abrangia toda a nova cultura polonesa no período entre 1890 e o fim da Primeira Guerra Mundial). Karlowicz jamais se sentiu à vontade nesse grupo de jovens que buscavam um sentido estético para a música polonesa da época. Ele preferia encontrar inspiração nos longos passeios de bicicleta, na fotografia e no esquiar na neve. Foi em um desses momentos, no dia 8 de fevereiro de 1909, enquanto esquiava nas Montanhas Tatra, próximo à cidade de Zakopane, que Karlowicz morreu tragicamente aos trinta e três anos, surpreendido por uma avalanche.

 

A composição da Sinfonia Renascer, penúltima obra de seus chamados anos de aprendizado, foi provavelmente iniciada em 1900, quando estudava com Heinrich Urban, em Berlim. Em 12 de maio de 1902 ele terminou a composição: “acabei de compor o último movimento da sinfonia, só me falta orquestrá-la…” (carta de Karlowicz para Feliks Starczewski). A primeira audição se deu em Berlim, no dia 21 de março de 1903, em um concerto regido por Karlowicz e inteiramente dedicado às suas obras. O programa incluía a abertura da música incidental Bianca da Molena (op. 6), o Concerto para violino em Lá maior (op. 8), com Stanislaw Barcewicz como solista, e a Sinfonia Renascer.

 

O primeiro movimento (Andante) da Sinfonia inicia-se triste e intenso. O primeiro tema se desenvolve a partir de um simples motivo de poucas notas que pode evocar uma onda que sobe e desce. O segundo tema é uma doce melodia executada pelo oboé. O segundo movimento (Andante non troppo), sereno, conserva um pouco da melancolia do primeiro, especialmente no belíssimo tema confiado ao violoncelo solo e, em seguida, aos primeiros violinos. A primeira seção do Scherzo (Vivace) é enérgica, bem ao espírito das melhores páginas de Tchaikovsky. A seção central nos brinda com mais uma melodia intensa de caráter inequivocamente polonês. A volta da primeira seção é inteiramente variada. Ao final, uma breve transição nos conduz, sem pausas, ao quarto movimento (Allegro ben moderato), com seu primeiro tema – de uma enorme vivacidade – executado por toda a orquestra, e o segundo tema, meditativo, apresentado pelo oboé. Uma coda trepidante encerra a Sinfonia.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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