Sinfonia Manfredo, op. 58

Piotr Ilitch TCHAIKOVSKY

(1885)

Instrumentação: 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 3 fagotes, 4 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harmônio, 2 harpas, cordas.

Embora sem estudo musical formal, Mily Balakirev tornou-se o mentor de um grupo de jovens estudantes de composição na São Petersburgo dos anos 1860, o chamado Grupo dos Cinco (formado por Borodin, César Cui, Mussorgsky, Rimsky-Korsakov e o próprio Balakirev). Com seu magnetismo pessoal e grande conhecimento musical, Balakirev exerceria uma influência considerável até mesmo em Tchaikovsky. O primeiro contato dos dois deu-se em 1868, quando o jovem e inseguro Tchaikovsky, ex-aluno do Conservatório de São Petersburgo e, havia dois anos, professor do Conservatório de Moscou, enviou a Balakirev uma partitura pedindo sua opinião. Iniciava-se ali uma duradoura e tumultuada amizade.

Embora desconfiasse de qualquer compositor com treinamento formal de conservatório, Balakirev reconheceu rapidamente o talento de Tchaikovsky. Com seu estilo sincero e direto, não poupava críticas às composições do jovem colega, encorajando-o a compor cada vez melhor. Em 1869 sugeriu-lhe a composição de uma abertura. Após exaustivo trabalho nascia a primeira obra-prima de Tchaikovsky, a Abertura Romeu e Julieta que, naquele ponto de sua carreira, muito deveu aos conselhos e correções de Balakirev.

Nos anos seguintes, a carreira de Tchaikovsky prosperou de maneira vertiginosa, enquanto a de Balakirev declinou rapidamente, devido a um colapso nervoso sofrido no início da década de 1870. Em 1881 Tchaikovsky enviou-lhe uma carta, anunciando a nova edição de sua Abertura Romeu e Julieta, revisada no ano anterior e dedicada ao amigo. Balakirev sugeriu-lhe então o programa para uma nova obra: uma sinfonia baseada no poema dramático Manfredo, de Lord Byron, história de um nobre, nos Alpes suíços, intimamente torturado por uma culpa misteriosa. Tchaikovsky prontamente declinou, dizendo-lhe que o tema não lhe despertava a mínima simpatia. Mas Balakirev não desistia facilmente e, em outubro de 1884, enviou-lhe um plano detalhado para a sinfonia, contendo o programa que a nova peça deveria seguir – aliás, originalmente concebido pelo crítico Vladimir Stasov e declinado por Berlioz e pelo próprio Balakirev. Curiosamente, Tchaikovsky estava de partida para a Suíça e, pouco menos de um mês depois, de Paris, escrevia a Balakirev dizendo que acabara de voltar dos Alpes e que a ideia da composição de uma obra sobre o poema de Lord Byron não lhe saía da cabeça.

A Sinfonia Manfredo é a única obra sinfônica programática de Tchaikovsky escrita em mais de um movimento. No primeiro, extremamente dramático, Manfredo vagueia pelos Alpes, atormentado pela memória de seu passado de crimes. O tema inicial, associado ao protagonista, será ouvido por toda a sinfonia. A delicadeza do segundo movimento, com sua belíssima seção central, nos remete à fada dos Alpes que aparece a Manfredo sob um arco-íris, enquanto o solo de oboé e a orquestração leve garantem a atmosfera pastoral do terceiro movimento. Já o Finale, com sua agitação frenética, retrata a vida infernal no palácio subterrâneo de Arimane. No final da sinfonia, Manfredo morre.

Dedicada a Balakirev, a composição iniciou-se em maio de 1885 e ficou pronta em quatro meses. Custou a Tchaikovsky mais tempo e dedicação do que qualquer outra obra lhe custara até então. A estreia, em 11 de março de 1886, em Moscou, sob a regência de Max Erdmannsdörfer, foi um sucesso estrondoso.

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

Olho:
A Sinfonia Manfredo é a única obra sinfônica programática de Tchaikovsky escrita em mais de um movimento. O tema inicial, associado ao protagonista, será ouvido por toda a sinfonia.

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