Sinfonia nº 2, “Londres”

Ralph Vaughan Williams

A história de Ralph Vaughan Williams se confunde com a história de muitas personalidades dos séculos XIX e XX. O naturalista Charles Darwin, pai da Teoria da Evolução, foi seu tio avô. Teve, como melhor amigo, o compositor Gustav Holst, com quem adorava fazer longas caminhadas no campo. Participou da Cambridge Conversazione Society, uma sociedade secreta de jovens universitários, da qual fazia parte o filósofo Bertrand Russel. Foi colega de escola de Leopold Stokowski, no Royal College of Music. Casou-se com Adeline Fisher, prima de Virginia Woolf e Vanessa Bell. Em Berlim, estudou composição com Max Bruch e, em Paris, foi aluno de Maurice Ravel.

 

Desde o início de sua formação, Vaughan Williams se interessou vivamente pela música simples do povo, mais do que por qualquer outro tipo de música. No início do século XX, ele estava entre os primeiros a viajar pelo interior coletando canções folclóricas e anotando-as para as futuras gerações. Tão grande era o seu fascínio pela música anônima das pessoas simples da Inglaterra, que ele passou a incorporar temas folclóricos em suas obras. Sua segunda e predileta sinfonia, intitulada A London Symphony, contém não apenas citações de canções ouvidas nas ruas de Londres, como referências aos sons da cidade. Nesta sinfonia, Vaughan Williams tentou retratar um pouco da sua cidade preferida, especialmente o distrito de Westminster. É neste pedaço da cidade, na margem esquerda do rio Tâmisa, onde se situa o Palácio de Westminster, sede do Parlamento Inglês, com sua Torre do Relógio e seus sinos. Naquela que ele preferia chamar de “a sinfonia de um londrino”, ouvimos não apenas o badalar dos sinos, como também o barulho das ruas, o murmurinho dos vendedores de flores, as canções dos taxistas e a marcha dos famintos. “Uma sinfonia colorida para uma cidade colorida”, nas palavras do compositor.

 

A London Symphony foi composta entre os anos 1911 e 1913, embora, em algumas cartas, o compositor parece sugerir que a vinha compondo desde 1910. Geoffrey Toye regeu a obra em sua estreia, em Londres, no dia 27 de março de 1914. Como a sinfonia não tinha sido ainda editada, Toye precisou regê-la a partir do manuscrito original do compositor. Após a estreia, Vaughan Williams decidiu enviar o manuscrito para Fritz Busch, na Alemanha, para um concerto que aconteceria alguns meses depois. Mas, em julho, estourava a Primeira Guerra Mundial e o único manuscrito existente da sinfonia se perdia para sempre. Vaughan Williams e seu amigo George Butterworth tiveram de reescrever a partitura a partir das partes individuais da primeira execução. O compositor aproveitou para fazer alguns cortes e modificações e, como resultado, apresentou a versão como a conhecemos hoje.

 

Guilherme Nascimento
Doutor em Composição, professor de Música da UEMG e da Fundação de Educação Artística, autor do livro Música menor.

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