Sinfonia nº 2, “Uirapuru”

Camargo GUARNIERI

(1945)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, piano, cordas.

 

Camargo Guarnieri teve sua trajetória musical iniciada na terra natal, a cidade de Tietê, estado de São Paulo. Posteriormente, transferiu-se para a capital paulista, onde sua relação mais direta com os ideários do nacionalismo musical começou a ser tecida, sobretudo por meio do contato com seus mestres Ernani Braga e Sá Pereira. Ambos tendiam claramente a uma produção musical nacionalista, articulada às suas pesquisas sobre o acervo folclórico-cultural do Brasil. A partir de 1928, Camargo Guarnieri manteve estreito e fértil contato com Mário de Andrade, literato e musicólogo que se tornara um porta-voz do movimento nacional das artes no Brasil.

A década de 1940 foi bastante promissora para Camargo Guarnieri no que tange ao seu reconhecimento profissional. Diversas de suas obras foram premiadas no Brasil e no exterior.

 

Em 1945, Guarnieri escreveu sua segunda sinfonia, que foi dedicada a Villa-Lobos, recebendo o subtítulo de Uirapuru, em menção ao bailado de Villa-Lobos composto em 1917. Conta a lenda que o Uirapuru, deus do amor – pássaro da Amazônia que se transformava em um belo índio disputado pelas índias que o encontravam –, quando cantava, calavam-se todos.

 

A Sinfonia Uirapuru recebeu o Prêmio Reichold, segundo lugar entre cerca de oitocentas obras enviadas a um Concurso Internacional em Detroit, com o intuito de escolher a “Sinfonia das Américas”. Contudo, a Sinfonia Uirapuru teve sua estreia somente em 8 de março de 1950, sob a direção do próprio Guarnieri, frente à Orquestra Municipal de São Paulo. Posteriormente, Eleazar de Carvalho a regeu em Cleveland e em Paris com a Orquestra da Radiodifusão Francesa, obtendo grande receptividade por parte do público e pela crítica internacional. Eleazar escreveu a Guarnieri que, após sua apresentação em Cleveland, retornou ao palco cinco vezes para agradecer os aplausos, e que, em Paris, também a crítica musical francesa reagiu com grande entusiasmo.

 

Esta Sinfonia, composta de três movimentos, enfatiza, por meio de seu brilho orquestral, a intensa brasilidade característica da obra de Guarnieri. No primeiro movimento (Enérgico), um tema inicial é apresentado, seguido de um desenvolvimento que realça outros dois temas que dialogam entre as cordas e os metais. O segundo movimento (Terno) apresenta um caráter intimista e afetuoso por meio de uma linha melódica introduzida pelo corne inglês e densificada, pouco a pouco, pelo corpo orquestral. Já o terceiro movimento (Festivo) enfatiza um caráter bastante ritmado, com destaque para as síncopes e as frases que remetem a temas nordestinos, com forte presença dos instrumentos de percussão.

 

Foram muito poucos os compositores que disponibilizaram, no campo musical
brasileiro, obra de tamanha envergadura e representatividade. Ao longo de sua larga trajetória, Guarnieri compôs nada menos que sete majestosas sinfonias.

 

Cesar Buscacio
Professor do Departamento de Música da Ufop, Bacharel em Piano pela UFMG, Doutor em História pela UFRJ e pós-Doutor em Musicologia pela EPHE Paris.

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