Karol Szymanowski
Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, requinta, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.
Diz-se maldosamente que Szymanowski foi o compositor polonês mais importante desde Chopin. De fato, se se observarem as escolas nacionais que despontam no cenário ocidental desde a segunda metade do século XIX, algumas tiveram mais ascendência sobre os caminhos tomados pela expressão musical do que outras. No entanto, há que se fazer uma ponderação. Algumas escolas nacionais mantiveram-se continuamente fecundas: é o caso da escola tcheca ou da escola russa. Outras, porém, sofreram um eclipse até que o século XX promovesse a renovação e uma releitura dos estilos nacionais: é o caso, por exemplo, de Bartók na Hungria. É também o caso de Karol Szymanowski, esse polonês nascido na Ucrânia.
Detentor de uma formação sólida, foi aluno de Gustav Neuhaus (pai de Heinrich Neuhaus, o importante pianista e pedagogo russo) e conviveu com artistas do quilate de Arthur Rubinstein (de quem era amigo próximo) e Ignacy Jan Paderewski (pianista antológico, que foi um dos divulgadores de sua música); acumulou cargos e prêmios importantes ao longo de sua vida (foi diretor do Conservatório de Varsóvia e recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Cracóvia). Sua saúde, porém, foi deteriorada pelo uso excessivo do álcool e do tabaco. Szymanowski morreu em Lausanne, na Suíça, consumido pela tuberculose.
Como compositor, sua linguagem vai se desenvolvendo lentamente. Começa sob os modelos de Chopin e Scriabin, depois toma interesse pelos universos de Wagner e Richard Strauss; mais tarde, o contato com as músicas de Debussy e Ravel o ajuda a libertar-se das correntes tradicionais e encontrar um caminho mais genuinamente pessoal de expressão, até que Stravinsky lhe abre os olhos para o folclore nacional. Sua técnica de composição, solidamente embasada na formação lapidar que teve, lhe permite usar das fontes folclóricas sem exotismos, realizando uma espécie de síntese entre a inventividade individual e elementos musicais folclóricos.
É do período final de sua vida a sua Sinfonia nº 4, também chamada Sinfonia Concertante. A ideia de se incluir o piano em gêneros sinfônicos diferentes do concerto não é de todo original: já Beethoven ensaiara isso em sua Fantasia Coral, op. 80. Em 1886, Camille Saint-Saëns atribui uma parte importante para piano naquela deliciosa suíte, plena de ironia, que é o Carnaval dos Animais… Porém, o fato de Szymanowski não atribuir à sua Sinfonia nº 4 o título de concerto revela a ênfase na igual importância tanto do solista quanto da orquestra na estruturação da obra. Estreada em 1933 (quatro anos antes da morte do compositor), em Varsóvia, pela Orquestra Filarmônica de Varsóvia, sob a regência de Gregor Fitelberg, tendo o compositor como solista, tornou-se uma das suas obras mais celebradas e executadas.
Sua estrutura, em três movimentos, lembra claramente a do concerto. Sua linguagem, porém, indubitavelmente moderna, revela um compositor maduro, capaz de transmutar em expressão individual as suas fontes tanto folclóricas, quanto de grandes correntes musicais do século XX.
Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.