Sinfonia pastoral em Ré maior, op. 4, nº 2

Johann Stamitz

(1754)

Instrumentação: oboé, 2 trompas, cravo, cordas.

 

Johann Stamitz faz parte da primeira geração de grandes sinfonistas do início do período Clássico, ou seja, da primeira metade do século XVIII. Foi um excelente compositor, além de exímio violinista (ele tocava também viola d’amore, violoncelo e contrabaixo) e renomado professor de música (seus filhos Carl e Anton Stamitz foram seus alunos, além do compositor Christian Cannabich).

 

Infelizmente, pouco se sabe sobre sua vida. Teve seus primeiros contatos com a música através do pai, organista e regente do coro na sua cidade natal. Estudou música com os jesuítas e, aos dezessete anos de idade, ingressou na Universidade de Praga, abandonando-a um ano depois para tentar a carreira de violinista virtuose. Embora não se tenha notícias de suas atividades, ele parece ter sido bem-sucedido, pois, aos vinte e quatro anos, foi empregado pelo eleitor de Mannheim. Como Konzertmeister, Stamitz era responsável por toda a música instrumental da corte: composição e execução de música orquestral e de câmara. Foi nessa posição que ele contribuiu para que a Orquestra de Mannheim se transformasse no conjunto mais renomado da época, famoso por sua execução precisa e sua capacidade de criar efeitos de dinâmica sem precedentes, tais como alternâncias súbitas de forte e fraco e longos crescendi instrumentais.

 

Stamitz soube, como ninguém, enriquecer o gênero sinfônico, aproveitando as qualidades da Abertura de ópera italiana e adaptando-as em suas obras. Foi um dos responsáveis pela fixação da estrutura da sinfonia em quatro movimentos, sendo o primeiro rápido, o segundo lento, o terceiro um Minueto e o quarto novamente rápido.

 

O primeiro movimento da Sinfonia pastoral (Presto) é alegre e gracioso. Em forma binária, na segunda metade do movimento Stamitz procede por uma repetição variada do material da primeira metade, em ordem inversa. O segundo movimento (Larghetto) é calmo, como uma canção de ninar. A elegância do terceiro movimento (Minuetto – Trio) nos lembra que, embora de caráter pastoral, a Sinfonia é uma música para ser ouvida nos salões. O quarto movimento (Presto) parece uma festa no campo, com seu caráter de dança e seu colorido rústico.

 

Assim como inúmeras obras pastorais sacras e profanas dos séculos XVIII e XIX (incluindo obras de Haydn, Mozart, Beethoven e Schubert), a Sinfonia pastoral de Stamitz apresenta elementos comuns da sua época que evocavam a vida no campo, tais como uma atmosfera leve com melodias vocais, harmonia simples, danças camponesas e chamados das trompas que nos lembram os pastores ao longe. No entanto, a maneira como ele tratava os elementos corriqueiros permitia um frescor incomum. A perfeição e o requinte de suas obras fizeram dele um dos maiores sinfonistas de seu tempo.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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