Spartacus: Suíte nº 2

Aram Khatchaturian

(1955)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 3 clarinetes, clarone, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, piano e cordas.

 

Ícone da escola soviética de composição, com Prokofiev e Shostakovich, Khatchaturian é o mais importante compositor armênio – embora tenha nascido em Tbilisi, capital da Geórgia. Responsável pela internacionalização da música de seu país, seu estilo articula a tradição dramática romântica e os elementos do chamado novo folclorismo. Khatchaturian mudou-se para Moscou para estudar biologia em 1922. Seus estudos de composição seguiram paralelamente. Ingressou no Conservatório de Moscou em 1929 e associou-se ao sindicato dos compositores em 1932. Durante a Segunda Guerra Mundial, tornou-se um dos mais influentes compositores soviéticos, tanto pelo caráter de sua produção, que se adequava perfeitamente aos preceitos do regime, quanto por sua rede de contatos, que se estendia para além das fronteiras da URSS. Khatchaturian era próximo de Rostropovich, Rubinstein, Stravinsky, Nádia Boulanger, Messiaen, Sibelius, Hemingway, Chaplin, Karajan, entre outros. Nesse período foi premiado pelo Estado por sua Segunda Sinfonia e pelo balé Gayane. Após a guerra, Khatchaturian caiu em desgraça com Zhdanov (o comissário cultural do regime) e, em 1948, foi afastado do sindicato, para o qual retornaria como secretário em 1957.

 

Em 22 de fevereiro de 1954, após três anos e meio de trabalho, Khatchaturian assina a última página do manuscrito de seu balé Spartacus. Em 1955, rearranja o balé em quatro suítes. Além das suítes, o material musical de Spartacus foi retrabalhado em três rapsódias concertantes e sete marchas para banda sinfônica. Na montagem de Leonid Jakobson, a obra é estreada em 1956, em Leningrado. Igor Moiseev coreografa o balé para o Teatro Bolshoi em 1958, mas é apenas a versão revista de 1968, na montagem de Yury Grigorovich para a mesma companhia, que consagraria Spartacus como um dos carros-chefes do balé russo.

 

A ideia para a peça veio do crítico e libretista Nikolai Volkov e foi recebida com ceticismo por Khatchaturian, embora este já considerasse a possibilidade de compor algo inspirado no lendário escravo romano. Para a redação de seu argumento, Volkov apropria-se livremente de referências clássicas. No balé, o rei trácio Spartacus e sua esposa são feitos prisioneiros pelo cônsul romano Crasso. Spartacus é vendido como gladiador, e Frígia, sua esposa, mandada para o harém de Crasso. Spartacus rebela-se após ter sido obrigado a matar um de seus amigos e lidera a mais famosa revolta de escravos da Roma Antiga. Com sua armada de quase quarenta mil rebeldes, resgata sua esposa e foge. Conflitos internos, no entanto, enfraquecem sua armada e, assim, Spartacus é descoberto por Crasso. Morto, seu corpo é encontrado por aliados que o levam para Frígia. O balé termina num desesperado lamento de luto.

 

A segunda suíte divide-se em quatro seções: o famoso adágio de Spartacus e Frígia; a entrada dos mercadores, seguida da dança de uma cortesã romana e de uma dança coletiva; a entrada de Spartacus, seguida de uma briga e da traição de Harmodius; e a dança dos piratas.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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