Suíte Brasileira

Alexandre LEVY

(1890)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, percussão, harpa e cordas.

A importância da família de músicos Levy, no período de transição entre o romantismo e o nacionalismo musical brasileiro, pode ser avaliada ao exame da trajetória de três de seus integrantes.

O patriarca, Henrique Luiz Levy, clarinetista de origem francesa, ao aportar no Brasil aos dezenove anos, dirigiu-se a Campinas e hospedou-se na residência de Carlos Gomes – então um compositor jovem e desconhecido. Foi Henrique Luiz quem levou para o Rio de Janeiro o futuro autor da ópera Il Guarany e ajudou a projetá-lo. Em 1860 fundou em São Paulo a Casa Levy – loja e editora musical, ainda hoje em atividade, que logo se tornou centro da “pianolatria” paulista (promover compositores e intérpretes, imprimir partituras, vender instrumentos e cultivar o público de música clássica foram atividades da família Levy em São Paulo naqueles anos).

Em 1861 nasceu Luiz Henrique Levy, filho de Henrique Luiz. Compositor e pianista, aos dezessete anos visitou a Exposição Universal de Paris e se apresentou como pianista na célebre Salle Érard, nessa cidade. Em 1864 nasceu o irmão, que viria a ser o compositor e pianista prodígio Alexandre Levy. Também regente e crítico musical, foi um dos precursores do nacionalismo musical brasileiro, lugar que teria ocupado com maior notabilidade se sua carreira não se interrompesse pela morte prematura, aos vinte e sete anos. Alexandre Levy afirmava que o Brasil haveria de revelar sua música, sobretudo a do Nordeste, através do folclore e do canto popular. Todavia, o nacionalismo em sua obra ainda é experimental e influenciado pelas diretivas impressionistas e wagnerianas do velho continente.

Os compositores eruditos brasileiros do século XIX, em sua maioria, incluindo Alexandre Levy, tiveram parte de sua formação musical realizada na Europa, berço, aliás, dos primeiros lampejos de nacionalismo. O Brasil, mal visto no contexto internacional pela abolição tardia, reagia com preconceito à cultura afro-brasileira e popular. Foi nessa época que surgiram, por todo o país, as associações de concertos, como o Clube Haydn, fundado em São Paulo por iniciativa de Alexandre Levy. Essas agremiações contribuíam para o desenvolvimento e a popularização do nacionalismo musical.

Em 1890 Alexandre Levy compôs um grupo de obras nitidamente nacionalistas: o Tango brasileiro para piano, o poema sinfônico Comala e a Suíte Brasileira. Nos compassos iniciais do Prelúdio, primeira parte da Suíte Brasileira, ouve-se a conhecida melodia Vem cá, bitu, extraída do cancioneiro infantil. No Samba, último movimento, o compositor empregou duas melodias – Se eu te amei e Balaio, meu bem, balaio –, ambas do populário da época. Esta última canção, oriunda do Sul do país, fora anteriormente utilizada na peça para piano A Sertaneja, de Brasílio Itiberê (compositor paranaense, 1846-1913). Mais próximo do samba rural e das danças urbanas daquele período (como o maxixe, a polca e o tango brasileiro) do que do samba de morro carioca, o Samba de Levy antecipa o ritmar contínuo dos acompanhamentos da música de salão de Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth e evidencia o ineditismo do uso do folclore em uma obra sinfônica.

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais e professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

Olho:
Alexandre Levy afirmava que o Brasil haveria de revelar sua música, sobretudo a do Nordeste, através do folclore e do canto popular. Todavia, o nacionalismo em sua obra ainda é experimental e influenciado [pelo] velho continente.

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