Capricho Italiano, op. 45

Piotr Ilitch TCHAIKOVSKY

(1880)

Instrumentação: Piccolo, 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.

 

Em viagem pela Europa, Tchaikovsky chegou a Roma no dia 20 de dezembro de 1879, para visitar seu irmão Modest, que morava na capital italiana desde alguns meses. Embora fosse dezembro, o clima estava excelente e os irmãos aproveitaram para fazer inúmeros e entusiasmados passeios turísticos. Tchaikovsky, estranhamente, não sentia vontade de trabalhar. Em suas cartas a Nadezhda von Meck, sua mecenas e confidente, ele admite que, sem inspiração para compor, preferia desfrutar seu tempo passeando e visitando os museus da cidade. Encantado com Roma, Tchaikovsky pouco a pouco concebeu a ideia de compor uma obra sobre temas italianos. Em 16 de janeiro de 1880 escreveu ao amigo Sergei Taneyev: “quero escrever uma suíte italiana sobre temas folclóricos”. Em menos de um mês a fantasia italiana, como ele agora a chamava, estava totalmente esboçada: “minha fantasia italiana sobre temas folclóricos terá um futuro promissor… graças às melodias encantadoras que encontrei em coleções ou que escutei nas ruas” (carta a Mme. von Meck de 5 de fevereiro de 1880).

 

Ele tinha razão. Sua fantasia italiana, terminada em 24 de maio e renomeada como Capriccio italiano pelo próprio compositor, tornou-se uma de suas obras mais conhecidas. A estreia triunfal, em Moscou, ocorreu em 18 de dezembro de 1880, pela Sociedade Musical Russa, sob a regência de Nikolai Rubinstein.

 

Composto de um único movimento, o Capricho italiano é uma coleção rapsódica de temas folclóricos enriquecidos por uma orquestração exuberante. Inicia-se com um tema solene nos trompetes (Andante un poco rubato) que, de acordo com Modest, era o toque militar que Tchaikovsky ouvia de sua janela todos os dias, vindo das barracas da cavalaria acampada a poucos metros do hotel. Os metais completam o tema dos trompetes e, ao final, iniciam o acompanhamento do segundo tema, uma melodia triste, executada pelas cordas no registro grave. As madeiras desenvolvem trechos desse tema para, logo em seguida, ouvirmos novamente o primeiro, nos trompetes. O segundo tema é também reapresentado, desta vez com acompanhamento nas cordas e melodia no corne inglês e no primeiro fagote. Surge delicadamente o terceiro tema (Pochissimo più mosso), doce cantilena executada pelos oboés e ecoada pelas flautas. Aos poucos esse tema contaminará toda a orquestra: primeiramente apresentado pelos trompetes, em seguida pelos violinos para, finalmente, ser executado por um tutti orquestral de rara beleza. Flautas e primeiros violinos, em contraponto com a primeira trompa, preparam o aparecimento do quarto tema (Allegro moderato), que surgirá apenas alguns compassos à frente, nas cordas. Trompetes e madeiras reapresentarão o quarto tema, e as trompas se encarregarão de fechar essa seção. Eis que ouvimos o melancólico segundo tema (Andante), executado nas cordas, com acompanhamento dos metais e madeiras. Um quinto tema (Presto) surge, alegre, nas madeiras, tornando-se cada vez mais enérgico, à medida que contamina toda a orquestra. O terceiro é reapresentado (Allegro moderato), em caráter vigoroso. Em seguida, pequenos trechos dos temas anteriores (Presto), fragmentados por toda a orquestra, nos conduzem a uma coda brilhante (Più presto – Prestissimo).

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor da Escola de Música da UEMG, autor dos livros Música menor e Os sapatos floridos não voam.

anterior próximo