Concerto para piano nº 2 em Sol maior, op. 44

Piotr Ilitch TCHAIKOVSKY

(1879/1880)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

 

Em 10 de outubro de 1879, quando Tchaikovsky chegou à casa da irmã, em Kamenka, sua intenção era de apenas descansar do exaustivo trabalho dos meses anteriores. Uma nova ópera havia sido composta, A Dama de Orleans, e a correção das provas para a futura edição o havia levado à exaustão. Porém, tão logo ele chegou a Kamenka, uma nova ideia musical começou a persegui-lo. Em 24 de outubro escrevia para sua amiga e mecenas, a baronesa Nadyezhda von Meck: “comecei a compor um concerto para piano. Mas não vou me apressar. De forma alguma vou me pressionar ou me cansar com a composição”.

 

E, de fato, ele fez todo o possível para não se estressar, mantendo sempre o entusiasmo e cuidado com a nova peça que nascia. Em 21 de novembro chegava a Paris com o primeiro movimento já pronto. No dia 29 começou a trabalhar no terceiro movimento e, só depois de terminado, iniciou a composição do segundo movimento. No dia 14 de dezembro de 1879 a primeira versão do Concerto estava pronta e ele partiu para Roma, na esperança de orquestrá-lo na virada do ano. Mas, nos dois meses e meio que passou na Cidade Eterna, suas principais ocupações foram revisar as provas da Sinfonia no 2 e compor o Capricho Italiano. Apenas no início de março de 1880, com as malas prontas para São Petersburgo, Tchaikovsky conseguiu fazer a versão definitiva para dois pianos do Concerto nº 2 (com a parte da orquestra escrita para o segundo piano). A orquestração só viria mais tarde, no início de maio, quando já de volta a Kamenka.

 

O que mais surpreende, nessa obra tão original, são os longos solos de piano e as belas passagens camerísticas. O primeiro movimento, Allegro brillante, é composto sobre uma variação livre da forma sonata (até então, a forma mais usual dos primeiros movimentos de concertos e sinfonias). Após a apresentação do tema principal pela orquestra, o piano rouba a cena e reina absoluto por todo o movimento, com longas passagens dedicadas exclusivamente a ele. O segundo movimento, Andante non troppo, surpreende pelas longas passagens protagonizadas pelo violino e violoncelo solistas. O primeiro tema é de um lirismo ímpar, digno das mais belas melodias de Tchaikovsky. Na seção central, a atenção se divide entre o piano, o violino e o violoncelo, que travam um diálogo camerístico comovente, ao ponto de muitos críticos da época sugerirem que o movimento figuraria muito bem em um concerto triplo. O terceiro movimento, Allegro con fuoco, é o mais alegre de todos. Com inflexões de dança e estrutura parecida com a de um rondó, contém quatro temas que são apresentados ao piano, ora em diálogo com a orquestra, ora acompanhado por ela. O caráter de dança russa nos remete mais à música nacionalista do Grupo dos Cinco do que ao que se convencionou associar à música de Tchaikovsky.

 

O Segundo Concerto para piano e orquestra nunca atingiu a popularidade do Primeiro, embora fosse, nas palavras do compositor, uma de suas melhores obras. Foi estreado em novembro de 1881, em Nova York, com Madeline Schiller ao piano e Theodore Thomas regendo a Orquestra Filarmônica de Nova York. A primeira execução russa se deu em Moscou, na sala de concerto da Exibição das Artes e das Indústrias, em maio de 1882. O pianista foi o amigo de Tchaikovsky, Sergei Taneyev, e o regente, Anton Rubinstein.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor da Escola de Música da UEMG, autor dos livros Música menor e Os sapatos floridos não voam.

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