Concerto para violino em Ré maior, op. 35

Piotr Ilitch TCHAIKOVSKY

(1878)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, trombone, tímpanos, cordas.

 

Em 1877, aos 37 anos de idade, Tchaikovsky fugia para o balneário suíço de Clarens, à beira do Lago de Genebra. Após uma união desastrada com sua ex-aluna Antonina Miliukova, ele precisava se recuperar do colapso nervoso causado por um casamento que durara apenas seis semanas. A estada em Clarens, entretanto, parece ter-lhe feito muito bem. Nos seis meses que lá ficou compôs algumas de suas obras mais importantes: a Sinfonia nº 4, a ópera Eugene Onegin e o Concerto para violino. Enquanto em Clarens, Tchaikovsky recebeu a visita de um antigo aluno, o violinista Yosif Kotek, que lhe deu a assistência técnica que precisava para compor o Concerto. Composto em apenas um mês, é ainda hoje considerado um dos concertos mais difíceis jamais escritos para o violino. Tchaikovsky inicialmente dedicou o Concerto ao violinista Leopold Auer, professor do Conservatório e primeiro violino do quarteto de cordas da Sociedade Musical Russa e das orquestras dos teatros imperiais de São Petersburgo (Teatro Imperial Bolshoi Kamenny, Teatro Imperial Mariinsky, Teatro Imperial Hermitage e Teatro Imperial de Peterhof). Porém, Leopold Auer não se entusiasmou muito com o Concerto e o considerou impossível de ser tocado. Triste com a demora de Auer em estreá-lo, Tchaikovsky providenciou uma segunda edição, desta vez dedicada ao violinista Adolph Brodsky, que o estreou em Viena, no dia 4 de dezembro de 1881, sob a regência de Hans Richter.

 

O Concerto para violino possui três movimentos. O primeiro (Allegro moderato) inicia-se com uma breve introdução da orquestra, seguida por um pequeno trecho em que o violino toca sozinho, preparando a entrada do tema principal (Moderato assai). O violino apresenta os temas em passagens extremamente virtuosísticas, ficando a orquestra encarregada de reapresentá-los logo depois. Quando já ultrapassamos a metade do movimento e caminhamos para o fim, o violino inicia uma longa cadência virtuosística, escrita pelo próprio compositor. Logo após, em uma passagem extremamente suave nas cordas, a flauta anuncia o tema principal. Tem início a reexposição temática, que nos conduzirá à explosão do tutti final.

 

O segundo movimento, uma Canzonetta (Andante), inicia-se com um belo coral das madeiras. Este coral não apenas prepara a entrada do solista como, ao final, fechará o movimento criando, assim, uma moldura onde, no centro, solista e orquestra travam um belíssimo diálogo musical.

 

O Finale (Allegro vivacissimo) deve ser atacado logo após o segundo movimento, sem intervalo. Com temas eslavos e um jogo constante de acelerar e desacelerar, o terceiro movimento parece uma festa cigana onde o violino toca como se estivesse improvisando o tempo todo. Este movimento incomodou profundamente o crítico Eduard Hanslick, presente na estreia. Para ele, a maneira direta com que Tchaikovsky cria a atmosfera festiva cigana era obscena e incivilizada: “quando se escuta esta música é possível ver uma série de rostos selvagens, ouvir seu linguajar bárbaro e sentir o cheiro de bebida”. Talvez para ele, e para os vienenses da época, isto fizesse sentido. Para nós, não é nada mais que uma música divina e encantadora, com um sabor exótico de um mundo distante.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor da Escola de Música da UEMG, autor dos livros Música menor e Os sapatos floridos não voam.

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