Rapsódia para Orquestra

Yuzo Toyama

Em 1960, quando Yuzo Toyama compôs a Rapsódia para Orquestra, certamente não imaginava que ela se tornaria, ao longo do tempo, a obra mais conhecida de sua produção. Naquela ocasião, o compositor – e também maestro – tivera a simples intenção de escrever uma “obra brilhante para servir como extra-programa” numa das turnês estrangeiras da Orquestra Sinfônica NHK, sob sua direção. Devido ao grande sucesso conquistado, esta obra passou a ser executada em todo o mundo, já não mais como “Bis”, e hoje integra a lista das “obras japonesas favoritas” em selos das principais gravadoras mundiais.

 

Grande parte da produção de Yuzo Toyama, a exemplo de compositores de outras nacionalidades como Béla Bartók e Zoltán Kodály, é baseada em práticas musicais populares do Japão e, segundo alguns autores, ela se enquadra no movimento musical conhecido como neonacionalismo, que culminou – em diversos países – após a Segunda Guerra Mundial.

 

A Rapsódia para Orquestra inspira-se, portanto, em temas tradicionais japoneses, intercalando seções rítmicas de grande vitalidade com momentos melódicos apoiados em escalas pentatônicas, levando o ouvinte a uma verdadeira viagem sonora pela cultura japonesa. O estilo rapsódico pode ser sentido através do livre encadeamento de diferentes partes temáticas, aqui alternadas em três seções: rápido-lento-rápido.

 

O impulso inicial da obra é dado pela percussão, que se mantém auditivamente presente na trama orquestral da primeira seção, construindo uma base rítmica sobre a qual diversos materiais melódicos são anunciados. Na parte central da obra, a percussão torna-se progressivamente mais discreta, dando a primazia ao caráter solístico da flauta, instrumento que aqui apresenta melodia com ornamentação requintada, envolta por uma sonoridade orquestral que não deixa de nos remeter à técnica de Claude Debussy. A última seção surge a partir de um novo e vibrante impulso percussivo, ao qual se alia, num grito, a voz dos instrumentistas. A partir daí, projeta-se uma sequência enérgica de acontecimentos melódicos e rítmicos que se manterão até o final apoteótico.

 

Vale a pena chamar atenção para a alusão feita ao tradicional kyoshigi, no início da primeira e da terceira seção. O kyoshigi é um instrumento japonês composto por dois pedaços de madeira ou bambu, usados nos tradicionais teatros japoneses para anunciar o início de uma determinada performance.

 

Yuso Toyama divide suas atividades artísticas entre a composição e a regência e deve parte de sua formação musical a nomes como Kanichi Shimofusa, discípulo de Paul Hindemith, e o reconhecido maestro austríaco Erich Leinsdorf. Ele já dirigiu todas as orquestras importantes do Japão e ocupa o cargo de maestro permanente da orquestra NHK desde 1979. Em decorrência do seu trabalho como regente e autor de mais de 225 composições, Toyama recebeu numerosos prêmios no Japão por sua contribuição à vida musical daquele país.

 

Ana Cláudia Assis
Pianista, Doutora em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais, professora na mesma Universidade, integrante do grupo Oficina Música Viva da Fundação de Educação Artística.

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