Veni, veni, Emmanuel

James MacMillan

(1991/1992)

Bacharel em Música pela Universidade de Edimburgo e Doutor em Composição pela Universidade de Durham, onde foi orientado por John Casken, James MacMillan desponta hoje como o maior dentre os compositores britânicos vivos. Sua produção é ampla, abrangendo óperas, balés, música para teatro e obras orquestrais, com destaque para suas quatro sinfonias e os diversos concertos encomendados ou compostos em homenagem a nomes de envergadura, tais como os percussionistas Evelyn Glennie e Colin Currie, o oboísta Nicholas Daniel, o violinista Vadim Repin, o violoncelista Mstislav Rostropovitch ou o pianista Jean-Yves Thibaudet, dentre outros.

 

Contudo, é sua produção de caráter religioso que faz de MacMillan um dos mais notáveis compositores de seu tempo. Católico fervoroso, produziu uma vasta obra marcada por temas litúrgicos e gêneros sacros, das quais destacam-se as duas paixões, segundo São João e segundo São Lucas, diversas missas e a realização musical de alguns dos mais importantes textos do cânone católico, como por exemplo As Sete Últimas Palavras da Cruz, Te Deum, Magnificat, Tota pulchra es e um Stabt mater que, em 22 de abril de 2018, tornou-se a primeira obra musical a ser transmitida ao vivo da capela Sistina, no Vaticano.

 

Sua música reflete ainda seu profundo apreço pela cultura escocesa, de modo que tanto o imaginário quanto a literatura e a história celta tornam-se temas recorrentes. Um exemplo é a obra The Confession of Isobel Gowdie, peça encomendada e apresentada em um dos Proms de 1990. Ovacionada, essa obra tornou-se um marco na carreira de MacMillan, abrindo caminho para a encomenda daquela que se tornaria sua obra mais executada, Veni, veni, Emmanuel, seu primeiro concerto para percussão e orquestra.

 

Veni, veni, Emmanuel foi encomendada por Christian Salvesen e estreada pela Orquestra de Câmara Escocesa sob regência de Jukka-Pekka Saraste e solo de Evelyn Glennie, em 10 de agosto de 1992, no Prom 27, no Royal Albert Hall. O concerto inspira-se no cantochão Veni, veni, Emmanuel, cujo refrão traz as palavras “Gaude, Gaude” (Regozijai, Regozijai) cantadas na forma de uma nota breve seguida de uma nota longa e outra nota breve seguida de outra nota longa. Essa estrutura rítmica (breve-longa-breve-longa) sugere ao compositor a batida do coração e é o elemento gerador de toda a peça, figurando assim em todos os seus compassos. A composição do concerto deu-se entre o primeiro domingo do Advento de 1991 e o domingo de Páscoa de 1992. Essas datas representativas do calendário cristão delimitam ainda sua estrutura, que explora inicialmente a dimensão teológica contida na noção de Advento e encerra-se, através daquilo que o compositor nomeia um “desvio litúrgico”, com uma alusão à Páscoa. Comungam assim a promessa de libertação dos fiéis do medo, da angústia e da opressão e a imagem do Cristo ressuscitado. Embora estruture-se formalmente em cinco seções (rápido-rápido-lento-rápido-rápido), a obra percorre oito episódios: Introit – Advento; Batimento Cardíaco; Dança – Hoquetus; Transição – Sequência I; Gaude, Gaude; Transição – Sequência II; Dança – Coral; Coda – Páscoa.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais e Doutor em Literatura pelo King’s College London.

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