Sinfonia nº 3 em Dó maior, op. 52

Jean SIBELIUS

(1907)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.

 

Em janeiro de 1905 Sibelius encontrava-se em Berlim, onde pôde assistir à Quinta Sinfonia de Mahler e a um concerto de Richard Strauss regendo suas obras Uma vida de herói e a Sinfonia doméstica. Ficou tão fascinado com a modernidade dessas obras que se viu logo compondo uma fantasia sinfônica monumental. Mas, no ano seguinte, assim que começou a compor, seu entusiasmo decresceu. A imponência da música germânica, especialmente da música de Strauss e Mahler (em 1906 e 1907, Mahler estava compondo sua colossal Sinfonia no 8), já não mais o encantava. Ele agora buscava um tipo de música mais simples e austera, em que a clareza formal e a economia de material melódico, harmônico e rítmico eram mais importantes do que a grandiosidade musical. Iniciava, assim, sua fase conhecida como classicismo moderno – praticamente duas décadas antes da eclosão do neoclassicismo que influenciaria toda a música europeia a partir dos anos 1920 –, de que a Sinfonia no 3 foi o primeiro fruto.

 

A Sinfonia no 3 foi composta no ano de 1907, mas os rascunhos mostram que alguns temas já se encontravam prontos desde 1904, oriundos de outras obras e reaproveitados. Em março de 1906 Sibelius escreveu a seu mentor, o barão Axel Carpelan, dizendo que a Sinfonia estava quase pronta e que ele desejava regê-la em Londres no início de 1907, com a Royal Philharmonic Society. Mas inúmeros problemas pessoais o assolaram na época e forçaram-no a deixá-la de lado por um tempo. Em março de 1907, um ano após a carta a Carpelan, a Sinfonia continuava inacabada, e o concerto teve de ser cancelado. Ele só viria a terminá-la meses depois, a tempo de regê-la no dia 25 de setembro de 1907 com a Sociedade Filarmônica de Helsinque.

 

Em 8 de janeiro de 1943, Sibelius dizia ao maestro finlandês Jussi Jalas: “A audiência ficou desapontada com a minha Terceira Sinfonia, pois todos estavam esperando que ela fosse como a Segunda. Eu comentei isso com o Mahler, que me disse que ‘a cada nova sinfonia você sempre perde os ouvintes que foram cativados pelas sinfonias anteriores’.”

 

Os ingleses tiveram de esperar até fevereiro de 1908 para ouvi-la, regida pelo hoje esquecido Sir Granville Bantock, compositor, maestro e professor inglês. Bantock foi o principal responsável pelo estabelecimento da reputação de Sibelius na Inglaterra. Sua generosa atitude de suporte e encorajamento ao compositor finlandês permitiu suas visitas a Londres e facilitou seu acesso à Royal Philharmonic Society. Profundamente agradecido, Sibelius dedicou a ele sua Sinfonia no 3.

 

A Sinfonia possui três movimentos. O primeiro (Allegro moderato), com seu ritmo enérgico e insistente, é o mais vigoroso dos três. O segundo (Andantino con moto, quasi allegretto) é um belíssimo noturno com sabor nacional, uma das mais belas músicas jamais escritas por Sibelius. O terceiro (Moderato – Allegro ma non tanto), ligeiramente caótico no início, pouco a pouco cede lugar a uma atmosfera intensa e elegante. Trata-se, de fato, da compactação de dois movimentos em um, o Scherzo e o Finale.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

 

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