Antônio Francisco BRAGA
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 2 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.
Francisco Braga nasceu no Largo da Glória. Perdeu o pai muito cedo e aos sete anos foi internado no Asilo de Meninos Desvalidos do Rio de Janeiro, integrando a banda de música da instituição como clarinetista. Sua vocação musical chamou a atenção dos mestres, que o encaminharam ao Imperial Conservatório de Música, onde estudou com um discípulo de César Franck e Massenet – Carlos de Mesquita. Esse regente fora o criador dos prestigiados Concertos Populares e apresentou ao público a Fantasia-abertura, primeira incursão do jovem compositor na música sinfônica. Laureado, aos dezoito anos Francisco Braga volta ao Asilo, agora como dirigente da banda, formação para a qual comporia muitas peças durante toda sua carreira, incluindo grande quantidade de hinos patrióticos – o mais popular é o Hino à Bandeira (1906), com letra de Olavo Bilac.
Em 1890, Braga classifica-se entre os quatro primeiros colocados no concurso para a escolha de um hino comemorativo do advento da República, sendo recompensado com uma bolsa de estudos na Europa. Em Paris, obtém o primeiro lugar no concurso de admissão ao Conservatório, na classe de Jules Massenet. E o célebre compositor empenha-se pessoalmente para conseguir junto ao governo brasileiro a prorrogação da bolsa concedida.
O período europeu foi enriquecedor. Ao final do curso, o jovem de vinte e sete anos regeu na Salle d’Harcourt um programa exclusivamente de compositores brasileiros. No ano seguinte, viajou para Dresden, onde fixou residência e assistiu à apresentação de seu poema sinfônico Paysage. Visitou por duas vezes Bayreuth, onde travou contato mais decisivo com a obra de Wagner. Em Capri, terminou uma ópera baseada em conto regionalista de Bernardo Guimarães – Jupyra –, com traços wagnerianos e libreto traduzido para o italiano. O sucesso da estreia, em 1900, no Rio de Janeiro, marcou o retorno do compositor ao Brasil, depois de dez anos de ausência.
Foi constante e variada sua atuação no ambiente musical do país como maestro, animador cultural e professor. Nomeado para o Instituto Nacional de Música em 1902, durante três décadas Braga formou muitos músicos importantes (entre outros, Villa-Lobos). Regendo seu poema sinfônico Insônia, em 1909, inaugurou o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, do qual se tornou o primeiro maestro titular. A seguir atuará como regente também à frente da Sociedade de Concertos Sinfônicos, que ajudou a criar e da qual foi diretor artístico por vinte anos.
Músico de técnica sólida e acabamento refinado, Braga manteve-se fiel às normas estéticas românticas do final do século XIX, mesmo vivendo no momento em que novas correntes modernistas surgiam na Europa e no Brasil.
Paysage foi composto em Paris e demonstra a vocação prioritariamente sinfônica do compositor – em sua produção variada e numerosa, o poema sinfônico é o gênero em que realizou suas obras principais: Paysage, Cauchemar, Insônia, Marabá.
Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.