Seu navegador não suporta o player de áudio, atualize seu navegador ou
acesse por outro dispositivo.
Tendo iniciado a carreira durante a Revolução Russa, Dmitri Shostakovich foi um artista cuja força criativa se viu, em diversas ocasiões, confrontada com as intempéries do clima político de sua terra natal. Assim, enquanto sua Primeira Sinfonia, datada de 1925, recebeu ampla aclamação e lhe trouxe fama internacional, sua posição de destaque na música soviética esteve seriamente ameaçada alguns anos mais tarde, quando a ópera Lady Macbeth do distrito de Mtzensk foi censurada pelo regime stalinista, em 1936. Essa relação de idas e vindas entre Shostakovich e o governo de seu país pode ser resumidamente ilustrada pelo período da Segunda Guerra Mundial. Em 1941, quando os alemães invadiram a União Soviética, o compositor deu vida à sua Sétima Sinfonia, que, embebida de sentimentos patrióticos, se transformou em um símbolo da resistência ao cerco de Leningrado. Na mesma linha, a Oitava, composta em 1943, evocava a batalha em defesa de Moscou contra os ataques nazistas. A Nona, portanto, era esperada como uma obra heróica e grandiosa, que teria a nobre tarefa de concluir uma trilogia sinfônica dos anos de guerra. Contrariando todas as expectativas, o que Shostakovich entregou foi uma sinfonia breve, acessível, objetiva e bem-humorada. Composta por cinco movimentos, a peça referencia o caráter clássico das sinfonias de Haydn, acrescendo toques de ironia e espirituosidade. Foi considerada frívola e leve pelas autoridades stalinistas, mas agradou o público desde a sua estreia em novembro de 1945, poucos meses depois do fim oficial do conflito armado.