Sergei PROKOFIEV
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
A trajetória musical de Prokofiev, com suas implicações estéticas, relaciona-se diretamente com a história de seu país. Sob essa perspectiva, divide-se em três períodos bem distintos – a fase russa, a ocidental e a soviética. A fase russa compreende os anos de aprendizado e afirmação no cenário musical da Rússia czarista. O período ocidental inicia-se após a Revolução, quando, em 1918, o compositor abandona a Rússia leninista para viver por muitos anos entre a França, os Estados Unidos e a Alemanha. A partir de 1927, Prokofiev começa a reatar contatos com a URSS. Em 1936, escreve para o Teatro Infantil de Moscou o conto musical Pedro e o Lobo e volta definitivamente à Rússia, iniciando sua fase soviética, durante os mais rigorosos anos dos expurgos stalinistas. Prokofiev morreu a 5 de março de 1953, coincidentemente o mesmo dia da morte de Stalin.
A Sinfonia op. 25 pertence ao final da fase russa. Desde seus últimos anos como estudante do Conservatório de São Petersburgo, Prokofiev frequentava as Noites de Música Contemporânea, quando entrou em contato com a obra inovadora de Debussy e Schoenberg. Intuitivamente, sua música se associava à estética da época, à pintura de Kandinsky e à literatura de Maiakovski. Aos vinte e cinco anos era bastante conhecido, e algumas de suas recentes composições (entre elas, o Concerto para piano nº 2) causavam espanto pela aspereza harmônica e rítmica. Alguns críticos o acusavam de “maquinismo” futurista e de iconoclastia revolucionária. A Sinfonia Clássica, concebida segundo os processos formais de Haydn, pareceu uma resposta do compositor, quando ele a regeu, a 21 de abril de 1918 em São Petersburgo. Na verdade, a motivação de Prokofiev era bem mais prosaica: tratava-se de compor uma sinfonia sem o auxílio do piano.
O primeiro movimento é um Allegro em forma sonata. O animado primeiro tema começa com um acorde forte seguido de figurações de escalas em piano (procedimento recorrente entre os clássicos vienenses). O segundo tema, mais dançante, caracteriza-se pelo acompanhamento staccato do fagote e grandes saltos melódicos nos violinos.
No Larghetto, apesar dessa indicação para o andamento, trata-se de um delicado minueto, com seu ritmo ternário e um lirismo muito particular de Prokofiev. O tema é apresentado pelos violinos nos registros mais altos e reaparece, alternando-se com dois episódios. O primeiro episódio é particularmente interessante, pela união do fagote e de todas as cordas em pizzicati.
A pequena Gavotte foi composta em 1916, antes do resto da Sinfonia, dentro da forma A-B-A usual. A parte central tornou-se célebre, apresentando uma canção popular russa nas madeiras sobre os acordes de quinta das cordas.
O Finale é um efervescente rondó-sonata que utiliza motivos do Allegro inicial em três temas curtos. O primeiro aparece nas cordas, marcado pelos tímpanos. As madeiras desenham o segundo tema sobre tradicionais baixos d’Alberti (acompanhamento da melodia com acordes arpejados). O terceiro tema, confiado à flauta e depois aos violinos, contém a ideia melódica dominante desse final repleto de espírito bem russo e popular.
Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.