Sinfonia nº 8 em Sol maior, op. 88

Antonín DVORÁK

(1889)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, cordas.

 

Na década de 1880, a música do tcheco Antonín Dvorák se tornava conhecida em toda a Europa, especialmente na Inglaterra, onde o compositor, muito apreciado, era frequentemente convidado a reger suas obras. Em meados do ano de 1889, o maestro Vasily Safonov, diretor do Conservatório de Moscou, convidou-o para reger obras suas na Rússia. Seria a primeira ida de Dvorák à terra de Tchaikovsky, compositor que ele tivera a oportunidade de conhecer em Praga, regendo sua própria Quinta Sinfonia. Naquela oportunidade, em que Tchaikovsky regeu também a ópera Eugene Onegin, o colorido e a originalidade da música de Tchaikovsky deixaram forte impressão em Dvorák.

 

Ele tinha, agora, a oportunidade de apresentar sua música ao público russo, um público já bastante habituado à música de Tchaikovsky. Pensando em quais obras suas seriam mais interessantes para essa estreia na Rússia, Dvorák pretendeu compor uma nova sinfonia, especialmente para a ocasião; escreveu a Sinfonia em Sol maior que, no entanto, desistiu de apresentar em Moscou naquela temporada, optando por outras obras. A Oitava Sinfonia, em Sol, foi então estreada com muito sucesso em Praga, sob a regência do autor, em fevereiro de 1890.

 

Com o êxito da estreia, Dvorák decidiu que a primeira audição dessa Sinfonia, fora da Boêmia, seria na Inglaterra, país ao qual devia um gesto de gratidão, por tudo o que recebera da parte dos ingleses, tanto pessoalmente quanto em relação à sua música. E assim sua Oitava Sinfonia foi tocada na Inglaterra e imediatamente editada nesse país, para só então ser ouvida na Rússia.

 

A Sinfonia nº 8, em Sol maior, já foi conhecida como Sinfonia nº 7 e nº 4, e apenas no século XX recebeu a numeração que hoje conhecemos. Dvorák compôs nove sinfonias, mas, tendo perdido o manuscrito da primeira, cada uma delas tinha numeração abaixo da numeração atual. Quando a sinfonia que conhecemos hoje como nº 8 foi editada em 1890, na Inglaterra, apenas as de números 5, 6 e 7 haviam sido publicadas; a de nº 6 foi a primeira, e por isso passou a ser conhecida do público como Sinfonia nº 1. E assim ocorreu também com as demais. Com isso, a Sinfonia em Sol, nº 8, quarta a ser editada, passou a ser conhecida como Sinfonia nº 4 (embora o compositor a chamasse de Sinfonia nº 7). Sua nona, última e mais célebre sinfonia, intitulada Sinfonia do Novo Mundo, editada em 1894, foi divulgada como Sinfonia nº 5 (para o compositor, a nº 8). Somente após a morte de Dvorák suas quatro primeiras sinfonias foram descobertas, inclusive o manuscrito da primeira, que o compositor dava como perdido. Dessa forma, elas ganharam a numeração que hoje conhecemos, não mais por ordem de edição, mas por ordem de data da composição.

 

A Sinfonia nº 8, em quatro movimentos, foi inspirada nas fontes da tradição popular boêmia, na esteira do nacionalismo dominante na segunda metade do século XIX, de que Antonín Dvorák é um dos mais importantes representantes.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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