Danças Eslavas, op. 72 (nº 7, nº 2 e nº 5)

Antonín DVORÁK

(1886/1887)

Introdução: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, percussão e cordas.

 

É interessante que as ditas escolas nacionais encontrem, nas danças tradicionais, arcabouço para expressões regionais, a partir da segunda metade do século XIX. Mais interessante ainda é notar que essas escolas nacionais extravasam a linguagem romântica e entram século XX adentro, abrindo caminhos originais, à margem das grandes correntes europeias.

 

Já não se digam das polonaises e mazurcas de Chopin, ou das rapsódias húngaras de Liszt, cujo “nacionalismo” é discutível, mas que trabalham, com estilização exponencial, certos materiais regionais. Digam-se, antes, das obras de Albéniz e Granados (e, mais tarde, Manuel de Falla), na Espanha, das danças e coros nas obras do Grupo dos Cinco, na Rússia e, mais adentrados no século XX, parte das obras de Bartók e Kodály, na Hungria, e de Ginastera, na Argentina.

 

Na escola tcheca, Smetana, nome frequente e injustamente olvidado, explora as danças típicas do folclore eslavo principalmente em sua obra para piano e para conjuntos de câmara. Foi ele um dos principais modelos para seu compatriota mais famoso: Antonín Dvorák.

 

As duas coleções de danças eslavas de Dvorák, porém, têm uma fonte curiosa, e mais imediata: as Danças Húngaras de Brahms. Ora, Brahms, que não tinha nada de húngaro, explora, com visão estereotipada, mas ainda assim muito atraente e cheia de brilho, o folclore alheio. Essas pequenas obras compostas para piano a quatro mãos exerceram tamanho fascínio em um Dvorák que via efervescer em sua terra o sentimento nacionalista, que ele mesmo orquestrou algumas delas.

 

Da mesma forma que as Danças Húngaras de Brahms, os dois cadernos das Danças Eslavas de Dvorák foram compostos originalmente para piano a quatro mãos. Nelas, ele tem plena liberdade de explorar os ritmos e gêneros de seu próprio folclore, sem mascará-los em formas supostamente universais. Com isso, Dvorák traz ao mundo danças até então pouco ou nada conhecidas pelo Ocidente: a Sousedská, o Kolo, a Dumka, a Furiant.

 

O primeiro caderno, op. 46, foi composto em 1878. Seu editor ficou tão impressionado com o brilho e encanto dessas pequenas obras que solicitou ao compositor que delas fizesse também uma versão orquestral. Ambas as versões foram publicadas no mesmo ano. Diante do sucesso que tiveram, seu editor lhe encomendou mais uma coleção de danças, publicada como op. 72, também em duas versões: para orquestra e para piano a quatro mãos.

 

Kolo, Starodávny e Spacirka são, respectivamente, as danças números 7, 2 e 5 do op. 72. A primeira é comum a diversos povos eslavos e se trata de uma dança circular. A segunda, por sua vez, é uma dança típica da Silésia. O título, de difícil tradução, segundo os estudiosos, evoca uma lembrança cara, como a de um primeiro amor. A última se trata de uma dança não muito rápida e o nome em tcheco deriva do alemão spazieren (passear).

 

As Danças Eslavas op. 46, estreadas em Dresden em 1878, foram decisivas para projetar Dvorák para além de suas fronteiras. As do op. 72 foram estreadas em 1887, no Teatro Nacional de Praga, sob a batuta do próprio compositor.

 

Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

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