Concerto para violino nº 1

Bela BARTÓK

(1907/1908)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 2 trombones, tuba, tímpanos, percussão, 2 harpas, cordas.

 

Por anos acreditou-se que Béla Bartók escrevera apenas um concerto para violino (seu hoje conhecido Concerto para violino no 2, composto entre 1937/1938 e estreado em 1939). O que não se sabia era que a violinista húngara Stefi Geyer possuía o manuscrito de um concerto inédito, a ela dedicado, composto por Bartók trinta anos antes. O Concerto para violino no 1 só seria revelado ao mundo um ano e meio após a morte da violinista (doze anos e meio após a morte de Bartók), em 30 de maio de 1958, na Suíça, pela Orquestra de Câmara de Basel, sob a regência de Paul Sacher e tendo Hans-Heinz Scheneeberger ao violino.

 

O Concerto para violino no 1 foi composto entre 1º de julho de 1907 e 5 de fevereiro de 1908, exatamente o tempo que durou o romance do compositor com a violinista Stefi Geyer. Embora já a tivesse assistido algumas vezes em concerto, foi nesse verão que Bartók se apaixonou perdidamente pela jovem. Stefi tinha dezenove anos de idade e ele, vinte e seis. Desse período remanesceram vinte e sete cartas dele e nenhuma dela.

 

O romance, aparentemente não consumado, durou sete meses e teve um fim súbito: “terminei o Concerto para violino em 5 de fevereiro, no mesmo dia em que você estava escrevendo a minha sentença de morte. (…) Não sei se devo destruí-lo ou mantê-lo trancado em minha escrivaninha”. Bartók enviou o manuscrito a Stefi (“minha declaração de amor, o seu concerto”) com um poema de Béla Balázs, o mesmo poeta que escreveria, três anos mais tarde, o libreto de sua ópera O castelo de Barba-Azul: “Meu coração está sangrando, minha alma doente. / Eu caminhei entre humanos, / amei com tormento, com amor ardente. / Em vão, em vão! / Não existem duas estrelas tão distantes / como duas almas”.

 

Os dois movimentos do Concerto são baseados no tema da Stefi Geyer (“o seu tema”), um motivo de quatro notas que aparece logo no início da obra e que será também encontrado em uma série de peças do autor, escritas entre 1907 e 1911: Dois quadros, op. 5; 14 Bagatelas, op. 6; 10 Peças fáceis para piano; 2 Elegias, op. 8b; Quarteto de cordas no 1, op. 7 e O Castelo de Barba-Azul, op. 11. O primeiro movimento do Concerto (Andante sostenuto), cheio de ternura, representa, nas palavras do compositor, a Stefi Geyer idealizada, “celestial e íntima”. Nele o violino solo trava um longo diálogo apaixonado com a orquestra. O segundo movimento (Allegro giocoso) é vivo e gracioso. A explosão de contentamento que parece emanar da parte do solista busca retratar a violinista que o autor admirava, “alegre, espirituosa e divertida”. A composição de um terceiro movimento, que representaria a mulher “fria, indiferente e silenciosa” que não correspondia ao seu amor, estava nos planos de Bartók. Em dezembro de 1907 ele abandonou a ideia: “fiquei impressionado, como se por uma súbita inspiração, com o fato aparentemente indiscutível de que a sua peça deve consistir apenas em dois movimentos, duas imagens contrastantes – isso é tudo”.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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