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Composta em 1898, Uma vida de herói é a última obra de um período de grande fertilidade para poemas sinfônicos demonstrada por Richard Strauss, quando explorou ao limite as potencialidades e a complexidade do gênero. Se, em trabalhos anteriores, o motivo literário podia ser percebido em certas evocações musicais – seja em aspectos narrativos, seja em aspectos psicológicos das personagens –, em Uma vida de herói isso é significativamente menos evidente e menos importante. Aqui Strauss parece levar a termo e a cabo o papel de mero pretexto do motivo literário, em razão de colocar soberanamente em primeiro plano a realidade sonora da construção musical. Isso revela uma posição particular sua, interessada em dar ao mundo apenas a realidade sonora da música, sem a interferência de sugestões extramusicais. Estreada em 1899, a peça marca definitivamente a entrada de Strauss na aurora do século XX, já ensaiada por investidas anteriores, genialmente bem-sucedidas. Se com Don Quixote e, principalmente, Till Eulenspiegel, Strauss demonstra amadurecimento e maestria na consolidação de sua linguagem, enraizada no Romantismo, mas prodigamente ramificada pelo século XX, em Uma vida de herói ele afirma e endossa um posicionamento musical que extrapola suas fontes românticas e abre caminho para novas possibilidades, que culminarão em obras como as óperas Salomé e O cavaleiro da rosa.