Viagem do clássico ao jazz

Fabio Mechetti, regente
Ole Edvard Antonsen, trompete

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HAYDN
JOLIVET
HUMMEL
ELLINGTON/Peress
Sinfonia n° 93 em Ré maior, Hob. I:93
Concertino para trompete
Concerto para trompete em Mi bemol maior
Preto, Marrom e Bege: Suíte

Fabio Mechetti, regente

Fabio Mechetti é Diretor Artístico e Regente Titular da Filarmônica de Minas Gerais desde a sua fundação, em 2008, sendo responsável pela implementação de um dos projetos mais bem-sucedidos no cenário musical brasileiro. Construiu uma sólida carreira nos Estados Unidos, onde esteve quatorze anos à frente da Sinfônica de Jacksonville, foi regente titular das sinfônicas de Syracuse e de Spokane e conduz regularmente inúmeras orquestras. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela realizou concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Conduziu as principais orquestras brasileiras e também em países da Europa, Ásia, Oceania e das Américas. Em 2014, tornou-se o primeiro brasileiro a ser Diretor Musical de uma orquestra asiática, com a Filarmônica da Malásia. Mechetti venceu o Concurso de Regência Nicolai Malko e é Mestre em Composição e em Regência pela Juilliard School. Na Temporada 2024, apresentou-se com a Orquestra Petrobrás Sinfônica e retornou ao Teatro Colón, onde conduziu a Filarmônica de Buenos Aires.

Um dos mais aclamados trompetistas do planeta, Ole Edvard Antonsen destaca-se pela técnica brilhante e pela capacidade de transitar com fluidez por entre as linguagens da música sinfônica, do jazz e do pop. Tocou em mais de quarenta países e em alguns dos palcos mais importantes do mundo, incluindo o Carnegie Hall (Nova York), Musikverein (Viena), Suntory Hall (Tóquio), Ópera de Sydney, Barbican Hall (Londres) e grandes estádios em Berlim, Seul e outras cidades. Apresentou-se como solista com a Filarmônica de Berlim, a Sinfônica de Londres, a Filarmônica da BBC e dezenas de outras orquestras renomadas. No âmbito da música pop, colaborou com John Miles, Lisa Stansfield, Ute Lemper e Secret Garden. Nascido no interior da Noruega, Antonsen começou a tocar trompete aos cinco e logo passou a acompanhar a banda de baile do pai. Após concluir os estudos, ingressou na Filarmônica de Oslo, onde permaneceu por sete anos. Em 1989, iniciou sua bem-sucedida carreira solo que, hoje, inclui mais de sessenta discos lançados e estreias de mais de sessenta obras escritas especialmente para ele. Nesta temporada, Antonsen apresenta-se pela primeira vez com a Filarmônica, homenageando conosco os 50 anos de morte de André Jolivet e de Duke Ellington.

Programa de Concerto

Sinfonia n° 93 em Ré maior, Hob. I:93 | HAYDN

Joseph Haydn passou quase trinta anos da sua vida trabalhando para uma nobre e influente família húngara, os Esterházy. Em 1790, com a morte do Príncipe Nikolaus Esterházy, seu patrão, Haydn foi autorizado a assumir novos trabalhos fora da corte, caso assim desejasse. Eis que o produtor de concertos Johann Peter Salomon enxergou uma oportunidade de levar o grande compositor, então com 58 anos e famoso em toda a Europa, até Londres para uma estadia criativa. Assim, iniciava-se o ciclo de suas sinfonias londrinas, influenciadas pelo dinamismo da cidade e por sua vida musical rica, variada e cosmopolita. A Sinfonia nº 93 foi a primeira delas, de um total de doze. Escrita em 1791, ano em que Haydn chegou a Londres, a obra funciona como um cartão de visitas dessa nova fase em sua carreira, na qual ele se torna progressivamente mais inventivo e arrojado a cada sinfonia criada. Apesar de ter sido a primeira a ser finalizada, a Sinfonia nº 93 acabou encontrando o grande público apenas no ano seguinte, em fevereiro de 1792, após as estreias da nº 95 e da nº 96. Alavancada pela excelente recepção das que foram lançadas antes, ela também alcançou um sucesso estrondoso e contribuiu para a coroação definitiva de Haydn como o “Pai da Sinfonia”.

A cena musical francesa do início do século XX foi fundamental para emancipar o trompete como um instrumento de destaque dentro do conjunto sinfônico. Aproveitando o talento de músicos que, geração após geração, elevaram o nível técnico e alargaram as possibilidades sonoras dos naipes de metal, compositores como Dukas, Debussy e Ravel, bem como o russo Stravinsky em seus balés parisienses, passaram a conferir maior relevância ao trompete em suas peças orquestrais. Com isso, abriram caminhos para o surgimento de uma série de concertos importantes a partir da década de 1940. Um deles é o Concertino para trompete de André Jolivet. Escrita em 1948, trata-se de uma obra breve, mas que exige enorme destreza do solista. Combinando elementos modernistas e neoclassicistas, o Concertino possui um único movimento, no qual, de modo similar à forma consagrada do concerto, Jolivet constrói três seções distintas – uma rápida, uma lenta e outra rápida. O tema central, introduzido logo no início, é retrabalhado em cinco variações ao longo da partitura, explorando o domínio da surdina, o frulato (ou flutter tonguing) e outras técnicas. Cabe notar ainda o papel fundamental desempenhado pelo piano, que atua ora como suporte ao trompete, ora em reforço às cordas e, em alguns momentos, até como solista. O Concertino foi estreado no dia 10 de junho de 1950, com Arthur Haneuse como solista e o próprio Jolivet na regência.

Compositor e pianista brilhante, pupilo de Mozart e amigo pessoal de Beethoven e Schubert, o austríaco Johann Nepomuk Hummel foi um grande nome na música europeia do início do século XIX, ainda que não tenha gozado do mesmo reconhecimento póstumo que os seus colegas. Em 1803, então com 25 anos, Hummel foi indicado por ninguém menos que o próprio Haydn para sucedê-lo como mestre de capela dos Esterházy, uma rica família da nobreza húngara. Em respeito ao seu antecessor, o jovem prodígio foi nomeado spalla e, apesar de realizar todas as funções de um mestre de capela, só recebeu o cargo de fato seis anos depois, com o falecimento de Haydn. O Concerto para trompete foi escrito por Hummel para celebrar a sua chegada à corte dos Esterházy. Tal como o igualmente celebrado Concerto para trompete de Haydn, composto em 1796, a peça de Hummel foi pensada para o recém-inventado trompete de chaves – modelo hoje datado, mas que, na época, ampliou o escopo sonoro do instrumento. Com seu inusitado tom em Mi maior, o Concerto de Hummel adota uma orquestração menos carregada que o de seu mentor, porém explora mais possibilidades do novo instrumento. Isso é perceptível especialmente no segundo movimento, uma ária dramática que demonstra como o trompete podia agora ser usado para executar melodias cheias de vida e ornamentações diversas. A obra foi estreada na festa de 1º de janeiro de 1804 dos Esterházy pelo criador do trompete de chaves, Anton Weidinger. Com o tempo, tornou-se um dos trabalhos mais conhecidos de Hummel (ainda que a versão mais tocada seja a transposta para Mi bemol maior) e um clássico absoluto no repertório do instrumento.

À frente de sua lendária big band, Duke Ellington passou os anos 1930 se aperfeiçoando como nenhum outro na arte das composições curtas pensadas para os discos de 78 rotações da época. Todavia, nunca deixou de se aventurar em criações mais longas, que testavam as possibilidades de diálogo entre o jazz e a música de concerto. Preto, Marrom e Bege (“Black, Brown and Beige”, no original), uma brilhante rapsódia sinfônica de quase 50 minutos, foi escrita às pressas para a sua primeira apresentação no Carnegie Hall. Em dezembro de 1942, Ellington aproveitou os intervalos das turnês e virou noites para finalizar a peça a tempo de sua grande estreia em janeiro. No processo, aproveitou ideias de um projeto antigo em gestação, sua ópera Boola, criando um tributo à história da população negra norte-americana em três movimentos. O primeiro, “Preto”, presta homenagem ao trabalho duro e à fé dos homens e mulheres trazidos escravizados da África. “Marrom” contempla os soldados negros que combateram inúmeras guerras em nome dos Estados Unidos, e inclui trechos que depois dariam forma à canção Come Sunday, imortalizada na voz de Mahalia Jackson. “Bege”, por fim, evoca o otimismo de uma nova era de prosperidade e reconhecimento para o povo negro, trazendo a efervescência das noites musicais do Harlem. Por conta de sua duração e da recepção ambígua na estreia, Preto, Marrom e Bege foi executada pouquíssimas vezes na íntegra por Ellington, mas, com o tempo, ganhou reconhecimento como um marco na história do jazz. Sua suíte é uma adaptação realizada por seu próprio criador, que depois recebeu o tratamento orquestral de Maurice Peress.

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18 abr 2024
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