Danças de Galanta

Zoltán Kodály

(1933)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, tímpanos, percussão, piano, cordas.

 

Zoltán Kodály e Béla Bartók são os mais importantes representantes do nacionalismo musical húngaro, bem como precursores no trabalho de documentação do repertório musical folclórico do leste europeu. A parceria deles, que teve início em 1905, tinha como motivação inicial a identificação de novas fontes musicais que servissem a seus interesses composicionais, uma vez que ambos sentiam que o Romantismo tardio alemão e vienense em que foram educados havia se esgotado enquanto proposta estética. Sobre o colega, Bartók declara: “Se eu tivesse que nomear um compositor com a obra que represente a mais perfeita materialização do espírito húngaro, diria: Kodály”.

 

A carreira de Kodály como compositor abrange sete décadas, estendendo-se de seus primeiros manuscritos, em 1897, à sua última obra, terminada em 1966. Seu estilo toma forma, incialmente, através de obras camerísticas ou para instrumento solo, e apenas após os anos 1920 o compositor se volta de fato para a composição de obras orquestrais. Em 1929, a pedido do maestro Arturo Toscanini, Kodály orquestra as Danças de Marosszék, que tinham sido compostas originalmente para piano, entre 1923 e 1927, e que são consideradas pelo compositor uma das origens estéticas de sua subsequente suíte, Danças de Galanta.

 

As Danças de Galanta foram compostas em 1933, para o 80º Aniversário da Sociedade Filarmônica de Budapeste, a partir de um conjunto de melodias ciganas relacionadas à cidade de Galanta (antigo Império Austro-Húngaro, atual Eslováquia), onde Kodály morou entre os anos 1885 e 1892. Embora seu título sugira uma suíte, a obra constitui, de fato, um poema sinfônico estruturado em forma rondó, isto é, uma série variada de seções intercaladas com uma primeira seção recorrente, como um refrão. Numa curiosa descrição em terceira pessoa, Kodály explica que “Galanta é uma pequena cidade mercantil conhecida daqueles que viajam entre Viena e Budapeste. O compositor passou sete anos de sua infância ali. Naquele tempo, havia uma famosa banda cigana que desde então desapareceu. Essa foi a primeira sonoridade ‘orquestral’ a chegar aos ouvidos da criança. Os antepassados daqueles ciganos já eram conhecidos há mais de cem anos. Por volta de 1800, alguns livros de danças húngaras foram publicados em Viena, um dos quais continha músicas ‘de vários ciganos de Galanta’. Eles preservaram as velhas tradições. A fim de mantê-las vivas, o compositor retirou seus principais temas dessa velha publicação”.

 

De fato, a obra é concebida a partir de um conjunto de verbunkos – danças apresentadas durante os recrutamentos compulsórios do exército Habsburgo e consideradas, até o século XIX, a dança nacional húngara. Embora associadas aos ciganos, que frequentemente compunham as bandas de verbunkos, essas danças são originalmente húngaras e delas derivam as famosas csárdás do século XIX. A obra foi estreada em 23 de outubro de 1933 pela Orquestra da Sociedade Filarmônica, regida por Ernest von Dohnányi, e tornou-se rapidamente a mais popular das obras orquestrais de Kodály.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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