Metamorfoses Sinfônicas sobre temas de Weber

Paul HINDEMITH

(1943)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.

 

Paul Hindemith foi um dos mais importantes compositores alemães do século XX. Seu estilo, chamado de neoclássico, apresenta influência das técnicas contrapontísticas de J. S. Bach. As características inovadoras de sua música foram perseguidas pelo nazismo, o que levou Hindemith a emigrar para os Estados Unidos em 1940.

 

Sua Metamorfose Sinfônica se originou de um antigo projeto para um balé – não realizado – que consistia de uma suíte orquestral sobre temas de Carl Maria von Weber. Entretanto, ao contrário do sugerido pelo título, tratava-se de variações sobre peças inteiras, e não apenas sobre temas melódicos. Nesse sentido, a abordagem de Hindemith aproximou-se da de Stravinsky com relação a Pulcinella. Nessa peça, Stravinsky não se limitou à orquestração de músicas do italiano Pergolesi, mas buscou uma “recomposição” livre do original. Do mesmo modo, Hindemith partiu de Weber para compor uma música tipicamente pessoal, com novas partes acrescentadas em contraponto, harmonias enriquecidas, ajustes rítmicos e estruturais e toda uma orquestração diferente. Apesar disso, os traços gerais das peças de Weber podem ser reconhecidos sob as variações. Cada um dos quatro movimentos baseia-se em uma peça diferente, na maior parte duetos de pianos. A estreia da peça se deu em 1944, pela Filarmônica de Nova York.

 

O primeiro movimento é uma marcha, organizada como uma sequência de breves seções repetidas em ritornelo. Observa-se a presença de um contraponto neobarroco, com características similares às da música de Bach, mas com uma harmonia temperada com algumas dissonâncias.

 

O segundo movimento, um scherzo, utiliza um tema pentatônico. Esse tema se repete com variações na orquestração. Destaque-se a presença de sinos e de outros instrumentos de percussão. A cada repetição surgem melodias secundárias em contraponto e trinos. A textura se adensa progressivamente, até alcançar um tutti sonoro e brilhante. No scherzo, uma frase de violino solo conduz à exposição de um tema com características jazzísticas que, trabalhado em imitação pelos metais, reaparece nos tímpanos, depois nas cordas, enfim em toda a orquestra.

 

No terceiro movimento, Andantino, o tema melódico do clarinete é pontuado pelas cordas, passando ao fagote, à trompa e aos violinos. A seção central contém um novo tema nos violoncelos – dobrado pelos clarinetes – acompanhado por acordes sustentados na orquestra. Após um tutti, o tema inicial reaparece em contracanto com uma flauta que borda sua melodia com delicadeza.

 

No quarto movimento, uma marcha, alternam-se dois temas. O primeiro é apresentado nos sopros, sobre a marcação rítmica das cordas. A instrumentação sugere uma banda marcial, com flautim e triângulo. Após diálogo entre tímpano e sopros, o tema retorna nos violinos. A segunda seção caracteriza-se pela alternância de madeiras e trompas e diferentes orquestrações. O tema inicial reaparece nos trombones, com contracantos de sopros. Para concluir, o segundo tema retorna em tutti e conduz a um final brilhante, com forte presença da percussão.

 

Rogério Vasconcelos
Compositor e professor da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais.

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